segunda-feira, abril 24, 2006

As minhas imagens do 24 de Abril de 1974

Sou filho de dois engenheiros Agrónomos, funcionários públicos que, como todos os portugueses, viviam com grandes dificuldades. Nasci durante o regime salazarista e foi ai que cresci, num país “cinzentão” e triste. Foi na ignorância e sob a propaganda fascista que entrei para o liceu (felizmente nunca fiz parte da Mocidade Portuguesa nem participei naqueles arraiais propagandistas do 10 de Junho). Nada sabia de politica para além daquilo que ia ouvindo em família. Não entendia, na altura, quando o meu pai, muito sério, me dizia para nunca contar a ninguém aquilo que ouvia lá em casa, era perigoso. Fui crescendo ao som das conversas em família do Marcelo (embora diferentes hoje também as há), sob a ameaça de um futuro com uma guerra colonial já ali à frente e a entender que existia uma pide. Para isso muito contribuiu as conversas ouvidas entre os meus pais e um tio com quem escutei pela primeira vez José Afonso e que me ofereceu uma fitas gravadas com músicas de Jacques Brel. Não posso dizer que com 15 anos fosse alguém politicamente esclarecido, mas já começava a entender que algo não estava bem. Falava-se da possibilidade de o meu irmão, mais velho dois anos que eu, ter de ir para a Suiça fugindo à guerra, uma das realidades nos ia assombrando à medida que crescíamos.
No meu último ano do liceu, formei com alguns amigos meus o GRE, que entre nós queria dizer “Grupo revolucionário da escola” e junto dos outros “Grupo recreativo da escola”. Nunca fizemos nada de revolucionário nem estivemos perto disso (não tínhamos conhecimentos políticos para isso), mas fazia-nos sentir como se pertencêssemos a algo secreto e contestatário relativamente aquela sociedade em que vivíamos. Foi com esse grupo que no 25 de Abril, sai a correr da escola a caminho da Praça do Comércio para assistirmos à revolução.
Contribuição para o Echelon: psyops, infiltration

5 comentários:

  1. Um bom feriado do 25 de Abril também para ti. ( eu vou estar a trabalhar uma boa parte do tempo, mas o que conta é o significado do dia )

    Vejo que decidiste por partilhar essas experiências e vivências. Ainda bem!

    Um abraço.

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  2. tambem eu estive no T. do Paço, mas fardado...
    um abraço

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  3. Obrigado a todos. Um abraço

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  4. nada como umas memórias de um dos períodos mais cativantes da nossa História... estás de parabéns tu e os teus amigos do GRE... Eu teria uns 7 anos e a maior parte da coisa passou-me ao lado... Tirando as "borlas" na escola, claro!

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  5. Um abraço e o meu obrigado pela partilha de recordações.
    ...creio que agora te conheço um pouco melhor.
    ...e gosto do que conheço.

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