O Silva, sem bater, abriu a porta e entrou no quarto do motel. Lá dentro sentada na cama estava já a Socretina a fumar um cigarro.
- Chegaste atrasado. Houve problemas.
- A Maria hoje não se calava e tive de lhe ir tirar a caixa dos enfeites de Natal que estava numa prateleira alta. Há dias que me andava a falar disso.
- Pensei que tinhas demorado mais porque tinhas ficado a mandar a lei das finanças Locais para o Tribunal Constitucional – disse a Sócretina num tom desafiador.
- Não me digas que estás chateada com isso? Não tem problema nenhum e sabes que eu nisto tinha de salvar as aparências – dizia o Silva enquanto se passeava pelo quarto nervosamente.
- Claro que compreendo, tu tinhas de pensar em ti e no teu cadeirão lá de Belém. Eu sei.
Acendeu mais um cigarro enquanto cruzava a perna.
- Pronto, estás chateada.
- Não estou nada. Tu fazes o que queres, não tenho nada a ver com isso.
- Olha – disse o Aníbal – Tu compraste uns pareceres a dizer que aquilo era tudo constitucional para usares nas discussões, não compraste?
- Sabes bem que sim. E, olha que foram bem caros. Comprei 5 e toma lá150 mil euros.
- Porra que esses gajos estão careiros. Se calhar devia ter tirado o curso de direito em vez do de economia. – Disse o Silva sorrindo.
- És muito engraçadinho.
Sentando-se ao lado da Sócretina, pegou-lhe na mão.
- Vamos então fazer assim: eu ajudo-te a escrever uma carta e depois tu juntas os pareceres e mandas tudo lá para o tribunal. Vais ver que não vão levantar problemas.
- Isso é muito bonito. - disse a Sócretina zangada – Se eles dizem não, eu é que fico mal, não é? Tu estás assim calmo porque de uma maneira ou de outra sais sempre bem. Eu é que me lixo.
-Vais ver que tudo vai correr bem. Agora anda cá que não quero discutir mais. Chega-te a mim.
-Tu só pensas nisso. Os homens são todos iguais.
O Silva, que se tinha levantado, sorriu e dirigiu-se à janela abanando a cabeça. Esticou o braço e baixou o estore. Nós, que estávamos cá fora, enregelados com o frio, lá ficámos a olhar para uma janela escura. Talvez para a semana tenhamos melhor sorte.
Contribuição para o Echelon: Kwajalein, LHI
Se há quem chore de alegria porque não haveremos de rir de tristeza. Todas as imagens deste blog são montagens fotográficas e os textos não procuram retratar a verdade, mas sim a visão do autor sobre o que se passa neste jardim à beira mar plantado neste mundo, por todos, tão mal tratado. A pastar desde 01 Jan 2006 ao abrigo da Liberdade de Expressão.
Estes dois encontram-se num motel mas que se F#)& somos nós...
ResponderEliminarMais um diálogo brilhante.
Um Abraço.
E esta será,por certo, a versão soft dos acontecimentos...
ResponderEliminarAh,o amor...esse fogo que arde...
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Será que o casal se entrega à prática da lírica camoniana?
melhor sorte, só mesmo se forem surpreendidos pela Maria de caçadeira de canos serrados em punho...
ResponderEliminarenquantos uns dão uma machadinha no matrimónio, outros dão uma machadada em todos nós. Isso é que não me está a "PARECER" justo! Eu falei em Pareceres???? :O)
ResponderEliminarTem o resto de um bom dia Kaos
outsider:
ResponderEliminarPois é, mas quem goza são eles.
abraço
Jorge:
ResponderEliminarAqui liricos somos só nós, que ainda acreditamos que esta gente possa fazer algo pelo país. Estes sim cantam bem a canção do bandido.
abraço
Rui:
ResponderEliminaressa era bonita. Com um cutelo ensanguentado nas mãos também não ficava mal.
abraço
gi:
ResponderEliminarRealmente já estamos bem sangrados por esta gente. Como dizia o saudoso Zeca Afonso no seu "Vampiros"
Eles comem tudo. Eles comem tudo.
Eles comem tudo e não deixam nada.
bjs
Sim Senhor, muito bem escrito! Está fantastico!
ResponderEliminarAbraço
Mas é mesmo verdade que estes dois andam...enfim...a enganar a Maria?
ResponderEliminarE ainda por cima num motel! Já não há moral nem costumes decentes! Brrrrr!
Olá Dml:
ResponderEliminarObrigado e bem vindo
abraço
Porca:
ResponderEliminarA vida está dificil para todos.
abraço
Diacono bentinho:
ResponderEliminarSão como unha e carne. Um diz mata e o outro logo esfola.
abraço
luikki:
ResponderEliminarEu acredito nisso que ela não é de confiança.
abarço
Pois é...num motel que a maria anda sempre a meter o bedelho...essa menina está amuada mas deve ter algo na manga.... Como sempre bons diálogos. :)
ResponderEliminarjinhos
Parece que ninguém se enganou: o namoro pegou mesmo... E irá longe...
ResponderEliminarMas...
C'o estore fechado, como vamos ver o resto da novela?
Há sempre uns que espreitam... E vão dando notícias.
Nem é preciso grande imaginação para ver em que vai acabar esta brincadeira...
Boa cena, Kaos!
JL
tb:
ResponderEliminarFoi no Motel porque a Maria andava e enfeitar a maison com os sininhos e os anjinhos. Não para quieta e entra em todo o lado.
bjs
jlf:
ResponderEliminarAinda nãp conseguimos colocar um espião dentro do quarto, mas estamos a tratar disso. Quem sabe um dia não relatamos tudo até à consumação do acto.
abraço