domingo, junho 17, 2007

Medo de ter medo

O que actualmente me faz sentir feliz com este blog, são os amigos que cá encontro e os comentários que aqui leio. O meu muito obrigado por isso.
O jcosta fez este comentário e honestamente diz mais do que aquilo que eu poderia dizer com mil desenhos ou um milhão de palavras. Por isso não digo mais nada e passo-lhe a palavra.

jcosta
said...

Sei que não é o lugar mas, apetece-me convocar o O'Neill para esta hora de desassossego. Portugal atravessa, de novo, um dos seus momentos mais negros da sua história. A liberdade em geral (a de opinião e expressão, em particular), está de novo na mira dos que se julgam donos da nossa consciência, iluminando-nos o caminho. Já que a Drª Moreira (NERD) tem "um ficheiro" de rastreio a tudo o que por aqui se publica, este poema é-lhe particularmente dedicado. Pode imprimir, colocar moldura e plantar no seu gabinete; garanto que não direi a ninguém e o O'Neill só reclamará de tão frouxa companhia. Mas, se nada fizermos, até de nós sentirá vergonha!

«Poema Pouco Original do Medo

O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos

Sim
a ratos»

Contribuição para o Echelon: Kwajalein, LHI

39 comentários:

  1. Não vou colocar este poema na moldura.

    Nem este:

    Os que foram vistos dançando
    foram julgados insanes por aqueles que não podiam ouvir a música

    Na moldura, vou colocar uma foto de uma praia do alentejo sem hotéis. Pronto.

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  2. Desimaginem-se os que ainda pensam que não está instalado um clima salazarento e bafiento. Ontem ouvi uma afirmação no "eixo do mal" que realmente dá que pensar. Os postos inferiores a Sócrates agem assim, porque é essa ideia que têm do próprio lider. Logo, pensam que com este tipo de atitudes, de alguma forma agradam o P.M.. É uma situação muito grave e muito tipico dos boys do PS. O pior dos 12 anos de Cavaquismo está instalado em apenas dois anos de Governo PS. Sinceramente com assuntos OTA, TGV, Plataformas logisticas, planos tecnológicos falhados, desemprego alarmante, perca de poder de compra, aumento da pobreza efectiva, acho, sinceramente que este Governo não terá um segundo mandato, ou então é como tu dizes num Post teu Kaos. Os Portugueses serão masoquistas?

    Grande Abraço, aqui pelo menos podemos expressar opiniões sem ter algum tipo de represálias. Eles pagarão caro estes comportamentos, abriram um precedente grave nunca antes visto em 30 anos de liberdade. Quem irá sofrer na pele somos todos nós!

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  3. NINGUÊM CALA A BLOGOSFERA!!!!!!!!


    Eheheheheh...A Luta COntinua!




    Aparece por lá tb...

    Bjs

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  4. ESTOU TÃO TRISTE QUE NEM CONSIGO DORMIR , COMER VIVER EM PAZ ...OU COM ALGUMA PAZ ...AO PONTO QUE SE CHEGOU !!!
    PENSAVA EU INGENUAMENTE QUE AQUELES DIAS (foram poucos que me lembre..., mas marcantes o suficientepara me recordar ainda e sentir um arrepio na espinha)EM QUE O MEU PAI RECEBEU UMAS CARTAS ESTRANHAS EM CASA LÁ EM MOÇAMBIQUE E TINHAMOS QUE ANDAR TODOS EM SILÊNCIO ...AS CRIANÇAS NÓS NÃO PODIAMOS GARGALHAR Á VONTADE NEM CORRER !!! PORQUÊ?! PORQUE TINHA CHEGADO MAIS UMA CARTA DAQUELAS EM QUE O PAI TINHA QUE TER CUIDADO COM AS HORAS E O DIA NÃO PODIA FALHAR SE NÃO IA PRESO E PERDIA O EMPREGO...´(é que tinha dois irmãos presos políticos na metropole ...e ele era vigiado ..ele , nós eramos vigiados !!!)TINHA QUE IR VOTAR!!!
    ORA PORRA SÓ QUANDO CHEGUEI AO 25 DE ABRIL TOMEI VERDADEIRA CONSCIÊNCIA DO QUE AQUILO REPRESENTAVA NA REALIDADE...

    MERDA, MERDA, MERDA...ESTOU NO LIMITE APETECE-ME CHORAR .
    GRANDES CABRÕES

    BEM HAJAS KAOS POR EXISTIRES
    BEIJÃO GRANDE

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  5. Mas é isso que eles querem
    meter-nos medo, já antes outros meteram.
    Neste País sem desvelo
    onde a manipulação é constante
    quem passa pelo governo
    enriquece num instante

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  6. anonimo:
    Será sem duvida mais agradavel, mas não podemos adormecer sob o seu sol ou quando voltarmos não econtraremos um país para viver
    abraço

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  7. madcientist:
    Ou masoquistas ou simplesmente vitimas da ignorancia em que foram colocados ao longo de muitas decadas. falta a cultura de questionar sempre aquilo que nos é dito pelos meios de comunicação. Falta o saber separar o trigo do joio. Resta-nos o continuar a passar palavra e quem sabe um dia Portugal poderá voltar a ser um país de verdade.
    abraço

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  8. Sulista:
    Esperemos que não. Há que continuar aberrar aqui e lá fora. Calar nunca.
    abraço

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  9. Laurentina:
    Não te deixes ia abaixo. Também eu ando desanimado, mas a minha raiva por aquilo que esta canalha anda a fazer é maior. Não vou aceitar que o medo me cale. Vamos lutar porque se há coisa importante é a liberadae.
    bjs

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  10. Contradições:
    Que enriqueçam já é mau, agora que para o fazerem nos queiram tirar a liberdade é inaceitavel.
    abraço

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  11. Também me apetece gritar !
    Um bom palavrão, com sonoridade e na hora certa, é concerteza apaziguador dum estado de angústia e aconselha-se vivamente.
    Mas não basta. Se assim fôr, perpetuamos a tirania, porque consentida, a masmorra que nos vai dilacerando as entranhas, e o que alteramos ? NADA!
    Tento ser pragmático e concluo que não é fácil mudarmos esta merda mas não fazer nada é castrador ! Mas o que podemos fazer ? Não sei mas todos chegaremos a um ponto comum.
    Pomo-nos a dinamitar pontes ?
    Esfolamos e esquartejamos o primeiro ministro ?
    Enforcamos o futuro presidente da câmara ?
    Fazemos um referendo ao ressurgimento da pena de morte ?
    Roubamos o vencimento do governador do banco de Portugal ? Sim porque esse gaijo ganha o DOBRO ( SIM O DOBRO !! ) daquele pobretanas do Greenspan, carago !
    Não sei, de facto, por onde podemos começar mas que temos de nos apressar, isso é verdade!
    Qualquer dia acordamos e estamos completa e drásticamente enrabados e depois é tarde para nos queixarmos que sofremos de hemoróidas !

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  12. Não vamos desistir ...
    Abraço solidário a todos!

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  13. Kaos, vou inserir a imagem e o poema, ok?
    Abraço,
    ASM

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  14. última hora

    Público de 17 de Junho 1ª pág

    O presidente da CM da Covillhã(para evitar problemas)* diz estar a ser "intimidado" por ter na sua posse (CMC) documentos comprometedores sobre a licenciatura de José Só G. Pinto de Sousa. (para evitar problemas)

    Recorde-se, que em tempos idos, um dos Partidos donos do estado Português, "arranjou", um "lugar" de inginheiro na "Câmbra Municipal da Covillhã " ao dito cujo! Dito cujo esse que entregou, nos serviços municipais, um diploma com números telefónicos astrológico-futuristas!



    O homem já não é não ter condições para ...

    o homem já não está em condições!

    digo eu!
    * Em tempos idos o "para evitar problemas" era uma arte!

    in http://action-liber.blogspot.com/

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  15. Proponho que se faça um site onde sejam colocados todos os dados pessoais e todos os podres dos «nossos políticos» e altos funcionários do Estado. Cada um deles teria a sua ficha:

    Fotografia,
    Nome,
    Local de nascimento,
    Empresas por onde passou,
    Cargos que ocupou,
    Salários que auferiu,
    Empreitadas e negociatas onde esteve envolvido,
    Etc, Etc, Etc…

    Uma espécie de PIDE ao contrário. Ao serviço dos cidadãos.

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  16. Um Big Brother ao contrário. Ou melhor, um Big Group of Little Brothers.

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  17. Kaos:
    Mesmo usufruindo da claridade máxima, o que nos daria óptima visibilidade, as tuas imagens são "flashs" que iluminam, causticamente, uma realidade que tantos não podem ou não querem ver. São as tuas imagens que, aqui, marcam encontro comigo. O que escrevo, meras circunstâncias. Vamos em frente (de enfrentar). Obrigado pelo que crias!
    Abraço.

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  18. Até o poema, nós reparamos (não sei como é a configuração do medo, ou se tem configuração), mas a disposição dos versos, olhados no escuro, fazem, além de o dizerem, lembrar o medo.
    Abraço.

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  19. A propósito do poema de Alexandre O'Neill ocorreu-me como o sarcasmo é a forma inteligente de o combater. não desanimenos...

    Rifão quotidiano

    Uma nêspera
    estava na cama
    deitada
    muito calada
    a ver
    o que acontecia

    chegou a Velha
    e disse
    olha uma nêspera
    e zás comeu-a

    é o que acontece
    às nêsperas
    que ficam deitadas
    caladas
    a esperar
    o que acontece
    Mário Henrique Leiria

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  20. correcção «de o combater» (ao medo,como é evidente)

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  21. Só se vende o que passa na televisão e a televisão só passa o que se vende.
    Então como tenho na minha factura da EDP uma contribuição audio-visual (sei que disserem que foi para a TV2 não acabar)?
    Os media, os jornalistas são extremamente importantes para acabar com a situação actual.
    Não percebo nada de blogs, de e-mails, de redes transversais (quem percebe disto são certamente o

    Engenheiro e o T dos Santos) mas vejo outros caminhos.
    Por exemplo em França anda a circular por e-mail um ficheiro PPS de que coloco aqui apenas o texto:

    1,22€
    le litre

    Bonjour à tous,
    On entend dire que le prix de l'essence grimpera à environ


    1,42€ le litre
    d'ici l‘hiver.

    Voulez-vous que le prix de l'essence baisse?
    C’EST POSSIBLE!
    Nous devons agir
    MAINTENANT
    et intelligemment.

    L'an passé quelques propositions ont étélancées: « N'achetez pas d'essence unecertaine journée » par

    exemple!
    Les compagnies pétrolières ont ri, carelles savaient que l’essence que nousn’achetions pas le lundi nous

    l’achèterionsle mardi.
    C'était un inconvénient pour eux, mais pasun problème.

    Quelqu’un a pensé à un plan qui peut fonctionner
    SI ON LE VEUTVRAIMENT
    Lisez ce qui suit et joignez-vous à nous pour le mettre en action!

    L’essence se vend présentement

    1,22€ le litre
    pour le sans plomb régulier
    Nous savons tous que nous nous faisons avoir par les pétrolières

    Rappelez-vous, lorsqu‘elles ont fait grimper l'essence à près d'un dollar. Elles disaient qu'il y aurait un manque

    de pétrole. Eh bien, il n'y a plus de manque de pétrole maintenant et le pétrole est plus abondant en ce moment

    qu'il y a 35 ans lorsque le prix du litre était à 29¢.
    Les pétrolières et l'OPEP veulent qu'on croit que l'essence est bon marché à 78¢ ou 89¢.

    Nous devons agir agressivement
    et leur montrer que ce sont les acheteurs qui contrôlent la bourse et non les pétrolières.La seule façon de voir

    les prix de l'essence baisser,
    est de frapper là où ça fait mal: leur portefeuille!
    NOUS POUVONS
    LE FAIRE!


    COMMENT?

    Comme nous avons tous besoin de nos véhicules, nous ne pouvons évidemmentpas nous priver d’essence.
    Mais, nous pouvons avoir un impact
    important sur le prix de l’essence
    SI NOUS AGISSONS
    ENSEMBLE
    pour enclencher une
    GUERRE DES PRIX!!!

    Philip Hollsworth, propose cette idée:
    Pour le reste de l’année,
    N’ACHETONS PLUS D’ESSENCE
    des deux plus grosses compagnies(qui n’en forment maintenant qu’une seule)
    ELF et SHELL

    Pensez-y un instant!
    Si les deux pétrolières majeures ne vendent plus d’essence, elles devront inévitablement baisser leur prix et

    cela déclenchera immédiatement la guerre des prix souhaitée.
    Mais, pour obtenir l’impact voulu, nous devons atteindre des millions d’acheteurs de ELF et de SHELL.

    Voici comment nous devons procéder!

    J’envoie ce courriel à une trentaine de personnes.
    Si chacune de ces personnes l’envoie à 10 autres, nous avons déjà atteint 300 personnes.
    Ces 300 l’envoient à 3 000 personnes…
    Le prochain envoi atteindra 3 MILLIONS de gens et à l’envoi suivant…
    Vous voyez ce que je veux dire…

    Si chacun de vous fait suivre ce message
    à 10 personnes, dans la journée qui suit,
    nous serons
    300 MILLIONS
    de personnes
    à faire la guerre aux pétrolières en environ 8 JOURS!
    Croyez-vous vraiment
    qu’elles auront le choix?

    OUI, NOUS POUVONS
    GAGNER

    MAIS…

    Il est absolument
    INDISPENSABLE
    de continuer à acheter notre essence
    AILLEURS
    que chez ELF et SHELL jusqu’à ce que nous atteignons notre objectifet, SURTOUT,
    DE FAIRE SUIVRE CE MESSAGE
    Pouvons-nous compter sur vous…?

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  22. Kaos, desculpe o tamanho do comentário, mas não resisti a deixar-lhe este poema de Jorge de Sena, que também já publiquei no meu canto.

    Um bom resto de domingo

    "Não, não, não subscrevo, não assino
    que a pouco e pouco tudo volte ao de antes,
    como se golpes, contra-golpes, intentonas
    (ou inventonas - armadilhas postas
    da esquerda prá direita ou desta para aquela)
    não fossem mais que preparar caminho
    a parlamentos e governos queiram secretamente pôr ramos de cravos
    e não de rosas fatimosas mas de cravos
    na tumba do profeta em Santa Comba,
    enquanto pra salvar-se a inconomia
    os empresários (ai que lindo termo,
    com tudo o que de teatro nele soa)
    irão voltar testas de ferro do
    capitalismo que se usou de Portugal
    para mão-de-obra barata dentro ou fora.
    Tiveram todos culpa no chegar-se a isto:
    infantilmente doentes de esquerdismo
    e como sempre lendo nas cartilhas
    que escritas fedem doutras realidades,
    incompetentes competiram em
    forçar revoluções, tomar poderes e tudo
    numa ânsia de cadeiras, microfones,
    a terra do vizinho, a casa dos ausentes,
    e em moer do povo a paciência e os olhos
    num exibir-se de redondas mesas
    em televisas barbas de falácia imensa.
    E todos eram povo e em nome del' falavam,
    ou escreviam intragáveis prosas
    em que o calão barato e as ideias caras
    se misturavam sem clareza alguma
    (no fim das contas estilo Estado Novo
    apenas traduzido num calão de insulto
    ao gosto e á inteligência dos ouvintes-povo).
    Prendeu-se gente a todos os pretextos,
    conforme o vento, a raiva ou a denúncia,
    ou simplesmente (ó manes de outro tempo)
    o abocanhar patriótico dos tachos.
    Paralisou-se a vida do pais no engano
    de que os trabalhadores não devem trabalhar
    senão em agitar-se em demandar salários
    a que tinham direito mas sem que
    houvesse produção com que pagá-los.
    Até que um dia, à beira de uma guerra
    civil (palavra cómica pois quedo lume os militares seriam quem tirava
    para os civis a castanhinha assada),
    tudo sumiu num aborto caricato
    em que quase sem sangue ou risco de infecção
    parteiras clandestinas apararam
    no balde da cozinha um feto inexistente:
    traindo-se uns aos outros ninguém tinha
    (ó machos da porrada e do cacete)
    realmente posto o membro na barriga
    da pátria em perna aberta e lá deixado
    semente que pegasse (o tempo todo
    haviam-se exibido eufóricos de nus,
    às Africas e às Europas de Oeste e Leste).
    A isto se chegou. Foi criminoso?
    Nem sequer isso, ou mais do que isso um guião
    do filme que as direitas desejavam,
    em que como num jogo de xadrez a esquerda
    iria dando passo a passo as peças todas.
    É tarde e não adianta que se diga ainda
    (como antes já se disse) que o povo resistiu
    a ser iluminado, esclarecido, e feito
    a enfiar contente a roupa já talhada.
    Se muita gente reagiu violenta
    (com as direitas assoprando as brasas)
    é porque as lutas intestinas (termo
    extremamente adequado ao caso)
    dos esquerdismos competindo o permitiram.
    Também não vale a pena que se lave
    a roupa suja em público: já houve
    suficiente lavar que todavia
    (curioso ponto) nunca mostrou inteira
    quanta camisa à Salazar ou cueca de Caetano
    usada foi por tanto entusiasta,
    devotamente adepto de continuar ao sol
    (há conversões honestas, sim, ai quantos santos
    não foram antes grandes pecadores).
    E que fazer agora? Choro e lágrimas?
    Meter avestruzmente a cabeça na areia?
    Pactuar na supremíssima conversa
    de conciliar a casa lusitana,
    com todos aos beijinhos e aos abraços?
    Ir ao jantar de gala em que o Caetano,
    o Spínola, o Vasco, o Otelo e os outros,
    hão-de tocar seus copos de champanhe?
    Ir já fazendo a mala para exílios?
    Ou preparar uma bagagem mínima
    para voltar a ser-se clandestino usando
    a técnica do mártir (tão trágica porque
    permite a demissão de agir-se à luz do mundo,
    e de intervir directamente em tudo)?
    Mas como é clandestina tanta gente
    que toda a gente sabe quem já seja?
    Só há uma saída: a confissão
    (honesta ou calculada) de que erraram todos,
    e o esforço de mostrar ao povo (que
    mais assustaram que educaram sempre)
    quão tudo perde se vos perde a vós.
    Revolução havia que fazer.
    Conquistas há que não pode deixar-se
    que se dissolvam no ar tecnocratado oportunismo à espreita de eleições.
    Pode bem ser que a esquerda ainda as ganhe,
    ou pode ser que as perca. Em qualquer caso,
    que ao povo seja dito de uma vez
    como nas suas mãos o seu destino está
    e não no das sereias bem cantantes
    (desde a mais alta antiguidade é conhecido
    que essas senhoras são reaccionárias,
    com profissão de atrair ao naufrágio o navegante intrépido).
    Que a esquerda
    nem grite, que está rouca, nem invente
    as serenatas para que não tem jeito.
    Mas firme avance, e reate os laços rotos
    entre ela mesma e o povo (que não é
    aqueles milhares de fiéis que se transportam
    de camioneta de um lugar pró outro).
    Democracia é isso: uma arte do diálogo
    mesmo entre surdos. Socialismo à força
    em que a democracia se realiza.
    Há muito socialismo: a gente sabe,
    e quem mais goste de uns que dos outros.
    É tarde já para tratar do caso: agora
    importa uma só coisa - defender
    uma revolução que ainda não houve,
    como as conquistas que chegou a haver
    (mas ajustando-as francamente à lei
    de uma equidade justa, rechaçando
    o quanto de loucuras se incitaram
    em nome de um poder que ninguém tinha).
    E vamos ao que importa: refazer
    um Portugal possível em que o povo
    realmente mande sem que o só manejem,
    e sem que a escravidão volte à socapa
    entre a delícia de pagar uma hipoteca
    da casa nunca nossa e o prazer
    de ter um frigorifico e automóveis dois.
    Ah, povo, povo, quanto te enganaram
    sonhando os sonhos que desaprenderas!
    E quanto te assustaram uns e outros,
    com esses sonhos e com o medo deles!
    E vós, políticos de ouro de lei ou borra,
    guardai no bolso imagens de outras Franças,
    ou de Germânias, Rússias, Cubas, outras Chinas,
    ou de Estados Unidos que não crêem
    que latinada hispânica mereça
    mais que caudilhos com contas na Suíça.
    Tomai nas vossas mãos o Portugal que tendes
    tão dividido entre si mesmo. Adiante.
    Com tacto e com fineza. E com esperança.
    E com um perdão que há que pedir ao povo.
    E vós, ó militares, para o quartel
    (sem que, no entanto, vos deixeis purgar
    ao ponto de não serdes o que deveis ser:
    garantes de uma ordem democrática
    em que a direita não consiga nunca
    ditar uma ordem sem democracia).
    E tu, canção-mensagem, vai e diz
    o que disseste a quem quiser ouvir-te.
    E se os puristas da poesia te acusarem
    de seres discursiva e não galante
    em graças de invenção e de linguagem,
    manda-os àquela parte.
    Não é tempo para tratar de poéticas agora.

    Jorge de Sena, Fevereiro 1976"

    in "40 anos de servidão", Lisboa, 1982, Moraes Editores - Círculo de Poesia, pps. 200 a 204

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  23. Medo ainda não senti mas ... já observei certos olhares suspeitos que não me são muito simpáticos e estão a deixar-me preocupado.

    Alguém me pode tirar uma dúvida ?

    Mário Soares envia dois ou três recados ao Sócrates.
    Dias antes, Soares filho, apresenta-se como (imaginem!) candidato à presidência da Câmara da capital, se o chefe o chamar para fazer um grande favor, ao povo, sabe-se lá (!), com que TAMANHOS SACRIFÍCIOS.
    Sócrates ignora o apelo do "sacrificado" exautarcaexemplardoelevadordapraçadafigueira.

    Acho um pouco estranho o envio dos "recados" mas, também, fico satisfeito por ouvir, finalmente, o sr. Soares a preocupar-se com o "bem-estar" e outras coisas que fazem falta ao poooovoooo !

    A dúvida que eu quero tirar é se há alguma relação entre a procura e a oferta. E é só.

    o excrente

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  24. kurwasapertadas:
    Tenho feito essa mesma pergunta todos os dias. Não é fácil sobretudo sabendo que se houvesse eleições tudo ficaria na mesma (com estas cars ou outras, mas com politicas identicas).
    Parece-me que a solução está em fazer barulho. Ir para a rua e mostrar o descontentamento. Falar, protestar sempre, fazer comicios em todo o lado onde haja algo de errado. Ir ao Supermercado e se só la´encontrarmos fruta espanhola refilar alto, falar nos transportes publicos, nos cafés, na rua. Passar o descontentamento a outros . É necessário falar alto.
    abraço

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  25. Sinistra ministra:
    Sabes que sim.
    bjs

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  26. act:
    O medo espalha-se por todo o lado. É assim que esperam controlar tudo e todos. Temos de lhes demonstrar que não aceitamos tal coisa e não calar, nunca.
    abraço

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  27. Diogo:
    Uma excelente ideia. O pior é que não somos uma PIDE mas simplesmente cidadãos preocupados sem tempo nem meios para isso. Mas a ideia era optima.
    abraço

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  28. jcosta:
    As imagens só procuram chamar a atenção, mas são as ideias o mais importante. Há que passar a mensagem e como se diz é a falar que a gente se entende. Há palavras que quando bem ditas são punhaladas na tirania e na opressão. Só juntando todas as nossas forças podemos combater quem tem o poder e a força. Só juntos podemos vencer.
    Realmente a forma do poema faz lembra um verme que rasteja em busca da sua vitima.
    abraço e obrigado

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  29. sarcastico:
    Já há alguns meses fiz um post com este poema fantástico depois de ver um programa com ele a ser declamado pelo grande Mário Viegas.
    abraço

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  30. anonimo:
    Por cá também já se tentou fazer algumas experiencias de por Email convocar as pessoas para combates do género. Não entendo muito bem este povo quando se demite de lutar e até parece gostar de apanhar pancada (ver sondagens). Não gostasse tanto deste país, deste sol e deste mar e já me tinha ido embora.
    abraço

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  31. Eva:
    Obrigado por mais estas belas palavras que aqui deixas. Sem vocês e sem estes comentários este blog nunca seria´o que é. Muito obrigado
    bjs

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  32. excrente:
    Oferta e procura parecem ser mais coisa de economista, mas afinal para essa escumalha que por ai anda parece ser a linguagem que entendem melhor. Para ele tudo está à venda e tudo pode ser comprado.
    abraço

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  33. Kaos, não se manda bj à Sinistra Ministra!!! Eu bem que tentei dar um ar sério despedindo-me com um abraço ;)
    Bjos, querido amigo!

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  34. Sinistra:
    Minha amiga, se fosses a Ministra mandava-lhe era outra coisa, a ti tem mesmo de ser bjs

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  35. LOL ... e eu a tentar passar incógnita ... Mas diz lá, baralhei-te por uns segundinhos que fosse?
    Bjinho, corajoso Kaos!

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  36. Moriae:
    Eu ati até te reconhecia mesmo que assinasses Maria de Lurdes Rodrigues
    bjs

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  37. Filhos da Puta! É só.
    Revoluções com Cravos é no que dá.

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  38. anonimo:
    De qualquer forma teve a vantagem de haver quem tenha compreendido que não pode viver sem a liberdade. Esses nunca se renderão
    abraço

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