segunda-feira, setembro 17, 2007

A escola nossa de cada dia.

Hoje a minha filha vai ter o primeiro dia de aulas deste novo ano. Às oito da manhã, lá a deixarei para a ver entrar pelos portões da escola. Tem 11 anos e vai voltar a sair às cinco da tarde. Nós pais, temos um dia por semana para lá poder entrar à hora marcada. Não sei se aquela escola já vai ter vídeo vigilância este ano, se já vai começar a habituar-se a viver num ambiente de "Big brother". Supostamente, para lá daqueles muros, o estado estará a educar a minha filha, a ensiná-la, a criá-la, para lhe dizer como se pode comportar e como deve pensar. Para mim como pai e para a mãe, ficam os curtos serões para a ouvir e para tentar passar um pouco de nós, da família, dos princípios de vida, de dignidade, de honradez e dos valores. Tudo isso, mais a brincadeira, o transmitir o amor que temos por eles. Não é fácil fazer tudo isto no tempo em que nos “permitem” que os guardemos durante a noite.
Tudo são vantagens, os pais têm de ir trabalhar que a "crise" está aí. Os filhos, esses, podem aprender os ensinamentos que lhes permitirão ser o cidadão submisso, trabalhador e respeitador deste mundo e deste futuro que lhes vamos legar. Vou ficar triste quando, a vir vergada ao peso de uma mala, carregada de “saber”, entrar por aquele portão dentro. Só me resta mesmo a esperança que por lá ainda existam alguns professores que acreditem verdadeiramente que ensinar, é ajudar crianças a tornarem-se gente que saiba pensar, decidir e não meras peças de uma enorme engrenagem. Tenha ela sorte de por lá encontrar algum.

Contribuição para o Echelon: Kwajalein, LHI

15 comentários:

  1. Subscrevo inteiramente, e, ainda que a pequena cria cá de casa só tenha um ano e meio, o estilo de vida que levamos, com a criatura no infantário, já se assemelha muito ao que o meu caro Kaos descreve.

    Enfim... É a "qualidade" de vida possível para a maioria da populaça cá do burgo.

    Um abraço

    João Gonçalves

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  2. Excelente...
    Nada mais a acrescentar!


    1 Abraço!

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  3. Kaos, sou professora e nem imagina o quanto me alegra que goste da companhia dos seus filhos, porque infelizmente,e com muita frequência, oiço muitos encarregados de educação comentarem que os filhos vão muito cedo para casa.Abraço.

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  4. Se é verdade que muitos pais já se conformaram em ver pouco os seus filhos e em delegarem na escola a sua educação, além de se conformarem com a cada vez mais notória falta de respeito pelo horário de trabalho e pelos seus direitos enquanto trabalhadores, a verdade é que há ainda muitos que têm consciência e sofrem com isso. O que é imperdoável é que vamos obedecendo ao plano traçado pelas políticas da globalização de destruição da família e da escola pública, planos estes exemplarmente executados pelos nossos governates fantoches. Entre eles um bastante sinistro e que se tem revelado eficaz; pôr os pais contra os professores e os professores contra os pais. Não será tempo de uns e outros discorrerem que só em união podem afirmar que essas políticas são nefastas para o Ensino, para a estrutura familiar e principalmente para as crianças?

    Um beijo

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  5. Caro Kaos, agora é que disse tudo. A minha mãe é professora do 1º Ciclo (não o de Bolonha, que já cheira mal do bolor que tem, mas do Ensino Básico - Básico ou para os "básicos"??) e eu bem sei o que ela sofre. Oxalá se multipliquem estes blogues como outrora se multiplicaram os pães, para ver se as pessoas começam a pensar realmente. O seu Kaos tem uns furacões magníficos, até já deixei de ver telejornais para passar aqui diariamente. Um bem haja, com amizade.

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  6. ...pois é...os custos civilizacionais a que nos obrigam e nós vamos deixando....até quando?
    jinhos

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  7. Kaos, passa na sinistra e participa na sondagem, pode ser?
    bj

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  8. Diz a Kaótica (que muito respeito pelas várias intervenções que, aqui e em outros blogues, atentamente li) "que muitos pais já se conformaram em ver pouco os seus filhos e em delegarem na escola a sua educação..." Ora aí é que está o cerne da questão. Em princípio compete aos pais (e, num sentido mais lato, à família ou,
    até, à comunidade onde estão inseridos) EDUCAR os seus filhos e à Escola compete dar-lhes INSTRUÇÂO, isto é, transmitir-lhes conhecimentos e habilitá-los a "aprender a aprender". Tanto é assim que, normalmente, é um dos Pais o "Encarregado de Educação" dos alunos. E o drama está aqui: salvo raras e boas excepções, a família, porque não tem tempo, não tem paciência, está fisicamente e/ou psicologicamente cansada ou não sabe, delega na Escola, para além da INSTRUÇÃO, também a EDUCAÇÃO dos seus filhos. Mas, sejamos realistas, a Escola, como Organização, não tem condições para EDUCAR e, algumas vezes, nem para INSTRUIR.
    JFrade

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  9. De Sophia M. B., Francisco Fanhais canta:
    “ O NOSSO TEMPO É
    PECADO ORGANIZADO.
    VEMOS, OUVIMOS E LEMOS
    NÂO PODEMOS IGNORAR...”

    Os “filhos da escola”, já consta na lista dos “pecados organizados” do nosso tempo...

    bjs

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  10. Os «Prós e Prós» de 17 de Setembro foram a apoteose do cinismo da Marilu! Como é possível «celebrar» a melhoria dos resultados escolares, quando toda a gente sabe que o novo estatuto da careira docente obriga os professores a dar boas notas aos alunos sem eles saberem nada?!... É só esta a explicação para a melhoria dos resultados!!

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  11. o meu filho nunca teve positiva a portugues e agora ja teve, so que nem sabe ler nem screber. bibó socrates e a marilu. eu axo muito bem, pq os garotos num tem nada candar a studar a matar a cavessa pó depois ficar no dezemprego.

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  12. Hoje, estive numa sala com meninos dessa idade. Quase com 12...Mas ainda tão frágeis.

    Costumo acompanhá-los do 7º ao 9º e ainda que tecnologicamente falando eles venham cada vez mais autónomos, é, também, um facto, que os sinto cada vez mais desamparados. Não creio que seja por falta de atenção ou acompanhamento por falta dos pais. Mas há um fosso cada vez maior entre os afectos e as aprendizagens.

    E só espero estar uma vez mais à altura de ser capaz de minimizar essa distância.

    Espero, também, poder vir a ser um desses professores que todos os dias trabalha para os tornar seres pensantes. Porque ainda os há nas nossas escolas!

    Gostei muito deste texto.

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  13. Sou professora. Já lá vão quase 30 anos. O que sempre motivou no ensino foi o trabalho com os meus alunos. E agora? Depois de todas as humilhações e depois da populaça ter dado vivas a esta cambada de imbecis e oportunistas? O que resta? Neste início de ano lectivo, creio que os encarregados de educação deste povo, deveriam vir para a rua e agradecer e aplaudir-me. Mas não. Ainda não vi UMA ÚNICA MANIFESTAÇÃO DE SOLIDARIEDADE DESTE PUEBLO PELOS SEUS PROFESSORES! Claro, somos muito diferentes. Que tal organizar um manifesto público de homenagem aos professores, e em especial, aos do "clube dos poetas mortos"..."vivos"! É que no tal colégio inglês o dito professor foi despedido...não estará na altura do "elogio da boa loucura"...é que se não o fizer, creio que o "tal professor/a para a sua filha/o" já estará mortinho e farto também de si e da sua cria!
    Sabe terá que ter CORAGEM e dizer não só no blog que quer ter para a sua cria um professor/professora destas. Acabaram-se os blogs. Os pais têm que agir. É que estes professores ~de que fala estão a pensar tratar da sua vidinha. E esta!? Tenha coragem e diga de sua justiça. Se não paciência. Acabou-se a sua satisfação em ter o "tal" professor/a. Terminou. Cuide-se!

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  14. Kaos:
    Este ano também fiquei apreensivo ao ver a minha filha entrar no 10º ano para uma escola com 2400 alunos. Permanece a esperança de que, no meio de tal «selva», ela venha a encontrar alguns professores como os retratados na frase: «Quando cada pormenor do que ensinaste estiver esquecido, o entusiasmo, o encorajamento e a bondade permanecerão.»
    Abraço

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  15. Gostei muito do que disseste, sorte a da tua filha por pensares assim - que o tempo que tens para ela não será nunca suficiente.

    Beijo

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