Hoje fiquei muito mais descansado em relação a esta crise financeira que abala o Mundo. Finalmente o Sr. Silva resolveu sair lá do seu Palácio e mostrar-nos o caminho da salvação. Internacionalmente, porque por cá, está tudo numa boa, coisa que o Sr. Silva regista com enorme satisfação, temos um sistema bancário imune a todas as crises, (será que é porque somos tão pequeninos que só temos direito a sofrer de indisposição bancária ou porque, como tudo o resto só chegará a Portugal com o atraso de uns meses ou mesmo anos?), a solução passa por uma coordenação e cooperação a nível internacional. Claro que mesmo assim ainda tem uma preocupação e essa é a da consequência da crise financeira sobre a vida das empresas, a vida das famílias e o desemprego. Esqueceu-se de dizer que medidas devias sair dessa coordenação e cooperação internacional e também como evitar que a crise afecte as empresas, as famílias e o emprego, mas isso são assuntos menores. Ele está preocupado e isso é motivo suficiente para o mundo começar a rodar ao contrário, para que o dinheiro comece a crescer nas arvores, as empresas passem a ter dinheiro para mandar os administradores fazer umas farras para umas estâncias de luxo, as famílias possam ir acampar para o Allgarve e os empregos, com bons salários comecem a brotar por todo o lado. Que seria de nós sem se não existisse o Supersilva?
Contributo para o Echelon: Electronic Surveillance, MI-17
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Aactual crise financeira tem multiplicado as reflexões de fundo sobre o sistema capitalista. Na maioria elas seguem uma teoria conspirativa, variante da luta de classes: existe uma elite que não só costuma explorar a massa do povo mas ainda gera estas terríveis convulsões com as suas imprudências. Tais ideias têm muito de verdade. São evidentes as fraudes, erros, crimes. Mas o mais dramático e curioso é que a crise não precisava disso para surgir. Ela pode acontecer mesmo sem qualquer falha, porque provém da natureza íntima do capitalismo.
ResponderEliminarA essência do nosso sistema económico é a liberdade de iniciativa. Cada um pode apresentar no mercado os produtos que quiser e, se forem preferidos pelos clientes, terá sucesso e prosperidade. Foi este sistema que gerou o incrível desenvolvimento da humanidade nos últimos dois séculos. Mas é também este mecanismo de experiência e tentativa, risco e atrevimento, que cria a instabilidade latente e recorrente na nossa vida. O tumulto não é acidente fortuito, mas elemento nuclear. Pode dizer-se que o capitalismo só floresce à beira do abismo.
O progresso nunca é ordeiro, calmo, planeado, mas uma permanente convulsão de criatividade e empreendimentos. Os sucessos são sobreviventes de muitas ideias que, apesar de boas e originais, ficaram pelo caminho. A coisa até corre mal mesmo quando corre bem.
Ainda alguém se lembra do Lisa, o computador que a Apple lançou em Janeiro de 1983? Era uma máquina impressionante, revolucionária, com novidades que perduram como o "rato", memória virtual, processamento múltiplo. Só que o pobre Lisa ficou na sombra do seu sucessor, o Apple Macintosh de Janeiro de 1984, que, esse sim, estabeleceu um padrão duradouro na tecnologia. Os desgraçados que compraram o Apple Lisa adquiriram um produto excelente mas logo obsoleto. São eles as vítimas do progresso.
Em grande medida é isso que está a acontecer no sector financeiro. Daqui a anos, os títulos e produtos que agora criaram esta confusão serão normais e pacíficos. Mas na primitiva versão actual, com regulamentação deficiente, quem os usou queimou os dedos, como há 25 anos os compradores do Lisa.
A este fenómeno têm de se juntar os elementos específicos do sector financeiro. Nas finanças lida-se directamente com moeda, que é uma responsabilidade directa do Estado. Por isso é que os bancos actuam sempre sob estrita vigilância regulamentar. A legislação é minuciosa, as suas contas são inspeccionadas habitualmente e até os administradores bancários têm de ser aprovados pelas autoridades, o que seria inaceitável numa empresa comum. Todas as instituições financeiras funcionam numa espécie de concessão pública. O Estado mantém-se o garante último do sistema monetário e tem poder absoluto sobre ele.
Por isso as recentes intervenções governamentais não são socialismo, keynesianismo, ou sequer intervencionismo. São do mais estrito e autêntico monetarismo. Foi Milton Friedman, supremo neoliberal, quem recomendou estas políticas para tratar crises deste tipo.
Todos gostamos dos avanços e melhorias, mas ninguém aprecia a concorrência e confronto, tentativas falhadas e ensaios perdidos, toda a luta pela novidade, que, afinal, é a origem do progresso. Este é o drama do nosso tempo. Joseph Schumpeter, um dos homem que melhor o compreenderam, chamou-lhe "destruição criativa", uma expressão convenientemente ambígua e hoje assustadoramente visível.
A raiva visceral de tantos à sociedade contemporânea tem aqui a sua justificação iniludível. Vivemos num mundo de prosperidade incomparável. Existe desigualdade, como sempre, mas muitos ganhos na medicina, comunicação, cultura e conforto até aos pobres beneficiam. Já nos esquecemos da terrível miséria antiga. Mas ao mesmo tempo experimentamos um clima ímpar de incerteza e instabilidade que nos assusta. Por isso, no meio dos benefícios, tantos se irritam e protestam. Só que abandonar o sistema por causa desses custos seria tão tonto como se o desgraçado que comprou o Lisa desistisse de usar com. puta, dores. -Credo Vai ao recto Satanás lagarto, lagarto, lagarto!
Também sou contra os casamentos dos homos e das lésbicas quero tudinho para mim aí filhos como me sinto só.
naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt
Caro floquinho, as evidências não confirmam as suas teses. Será difícil acreditar no que diz quando a nação mais poderosa do mundo desiste de produzir bens reais, que valem realmente alguma coisa, para em vez disso se dedicar a emitir e a vender capital falsificado, transformando-se numa D. Branca de tamanho descomunal...
ResponderEliminar... e que, enfim, se quisermos encontrar uma explicação minimamente coerente para tudo isto, teremos necessariamente que acreditar no valor das mercadorias como o valor do trabalho nelas incorporado na sua produção, sob pena de muitos dos defeitos que agora se apontam ao capitalismo anglo-saxónico não o serem.
ResponderEliminarSerá igualmente útil considerar como sérias as advertências de que todo a economia de mercado produz o fenómeno da alienação mercantil, quando os agentes económicos só vêm o valor externo que a confiança do mercado dá aos bens e serviços, esquecendo-se, no processo, do seu verdadeiro valor intrínseco.
Isto está tudo num bem conhecido livro, não vou dizer o nome senão caem-me aí uns tipos logo em cima, eh, eh, eh.
... para além do mais, parece-me ter lido acima algo similar aos fantasiosos vaticínios do Sr. Fukuyama, feitos numa altura em que ainda fumegavam os destroços do muro de Berlim:
ResponderEliminarPodemos estar a testemunhar não apenas o fim da Guerra Fria, ou o final de um período particular da história do pós-guerra, mas o fim da história humana como tal [...] Ou seja, o ponto final da evolução ideológica da humanidade e a universalização da democracia liberal do Ocidente como a forma final de governo do homem.
Parafraseando Galileu, só posso dizer, em face dos acontecimentos do presente: Porém, ela move-se!
Julgo que o Sr. Floquinho tem razão em muito do que diz, mas, impreterivelmente, o nosso joao tem a razão final. Considerar o valor de empresas não por aquilo que produzem, mas pela imagem que imanam é contraproducente com a própria essência do capitalismo: a busca da capitalização de bens e serviços através da valoração do seu valor acrescentado ao longo de uma mais ou menos longa supply chain.
ResponderEliminarNão vale a pena defender um sistema que simplesmente rejeita ou esconde o valor do trabalho, colectivo ou individual, para apenas especular sobre bens subsidiários, os chamados derivados e futuros, que mais não representam apenas que formas de especulação selvagem sobre a participação simples do vulgar cidadão no sistema capitalista, através do seu trabalho.
Não é assim, e o Sr. Floquinho sabe-o e teve a prova definitiva de tal. Continuo a insistir que os mercados de bens e serviços podem funcionar bem, desde que sem a carga excessiva da especulação selvagem. O próprio capitalismo tem de, forçosamente, voltar às suas origens, como voltou após a Grande Depressão ou após o Grande Choque Petrolífero dos anos setenta. Mas a memória é curta, ou então o bolso é fundo...
Olha fico aqui apenas a desfrutar do boneco que fizeste e que acho hilariante. O resto já está dito. :)
ResponderEliminarjinhos e obrigada por me proporcionares estes momentos.