quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Telhados de vidro


O relatório do Pentágono, divulgado na passada sexta-feira e publicado a cada quatro anos, manifesta a preocupação dos Estados Unidos pelo aumento da despesa estatal em defesa por parte da China que aponta como uma potencial ameaça militar para os Estados Unidos
«Das grandes potências e das potências emergentes, a China tem o maior potencial para competir militarmente com os Estados Unidos e introduzir tecnologias militares novas que, com o tempo, poderão contrabalançar as vantagens militares tradicionais dos Estados Unidos. O ritmo e extensão do poderio militar da China está já a pôr o equilíbrio militar da região em risco», lê-se no relatório. Sublinha ainda, «o investimento da China em novas tecnologias de defesa, como equipamento de guerra electrónica e cibernética, operações contra-espaciais, mísseis balísticos e de cruzeiro, sistemas avançados integrados de defesa aérea, torpedos de nova geração, mísseis nucleares estratégicos e veículos aéreos não tripulados».
O governo chinês rejeitou hoje o relatório do Pentágono e anunciou ter apresentado uma queixa formal a Washington. «São acusações sem fundamento algum, feitas sobre o normal desenvolvimento da China em termos de defesa, interferem com questões internas da China e tentam dar validade a uma teoria errada da China como ameaça militar», disse em Pequim Kong Quan, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China.
Um relatório do Pentágono do ano passado, negado pela China, apontava para uma despesa entre 50 e 70 mil milhões de dólares americanos. As forças armadas chinesas, o Exército Popular de Libertação, são as maiores do mundo, com 2,3 milhões de efectivos.


Realmente é preocupante que um qualquer país gaste tanto dinheiro em armamento. O desenvolvimento de novas armas, convencionais e nucleares, deve preocupar todo o mundo. Vivemos tempos atribulados, com dezenas de conflitos regionais, cada vez mais violentos e globalizantes. O terrorismo é uma das suas facetas mais graves e atentados podem acontecer em qualquer lugar em qualquer momento. A imposição forçada de culturas e políticas acaba por violentar povos, ainda arreigados aos seus modos de vida e, que reagem violentamente a essa intromissão. A corrida ao armamento é, por isso, um perigo real e permite que divergências entre países possam degenerar em conflitos graves e desencadear guerras em que quem acaba por mais sofrer são as populações.
A questão que se pode pôr aqui é que direito têm os Estados Unidos para fazerem as criticas e colocarem países em listas de potenciais ameaças. Não nos podemos esquecer que, no orçamento proposto pelo presidente americano, também é aumentada a despesa militar, mantendo-a como a maior de todo o mundo. Desde 2001 o orçamento militar Norte-Americano aumentou 48%.
O mesmo se passa com a questão nuclear com o Irão. Quer-se proibir aos outros aquilo que não se abdica de ter. No lugar de acabar definitivamente com as armas de destruição maciça e com as tecnologias de guerra, cada vez mais se investe nelas e se tenta proibir os outros de também o fazerem. É preciso ter muita lata para criticar os outros por fazerem aquilo que nós também fazemos. Quem tem telhados de vidro não pode atirar pedras.

3 comentários:

  1. Havendo como há na China tantas e tão profundas bolsas de pobreza e fome, o gasto em tantos milhões no sector da Defesa é preocupante... Revela um país obcecado com a ocupação de um estatuto de superpotencia. Misturado temos um regime autoritário e persecutório que ocupa colonialmente um outro (o Tibete).

    Aos EUA assistem todas as razões para estarem preocupados. Se hoje, os tais milhões de soldados de infantaria seriam presa fácil para qualquer ofensiva aérea, a compra e a aquisição da capacidade técnica que os russos cederam à China quando a deixaram fabricar os Su-27 e os destroyers sovremieny indica que esta pode ultrapassar o gap tecnológico que a separa ainda do Ocidente.

    Francamente, preocupa-me muito mais este armamento chinês do que o armamento americano. Embora ambos sejam maus. Especialmente se compararmos com o crescente desarmamento europeu...

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  2. Concordo totalmente com esta opinião. A unica questão que quero colocar aqui é a da necessidade de todos os países, EUA incluido, abandonarem esta corrida ao armamento. (Não esquecer no entanto que o Presidente Americano é Jorge W. Bush)

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  3. Para Bush deixar de ser armamentista, seria necessário que deixasse de ser Bush...

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