in "O Público" 2005/07/18
Trabalhadora compra fábrica de confecções por um euro
«A trabalhadora que em Novembro de 2004 assumiu o leme de uma empresa de confecções de Arcos de Valdevez na sequência do súbito "desaparecimento" dos patrões, acaba de comprar a fábrica por um euro. O anúncio foi hoje feito, em conferência de imprensa, pela referida trabalhadora, Conceição Pinhão, que acrescentou ter a escritura pública de compra da unidade fabril "Afonso - Produção de Vestuário" sido assinada na semana passada. A "Afonso" funciona há 16 anos na Zona Industrial de Paçô, em Arcos de Valdevez, em terrenos cedidos pela Câmara local a preços simbólicos, garantindo 90 postos de trabalho. "Finalmente, consegui adquirir das quotas da sociedade e agora vou continuar a desenvolver os contactos que já encetei para tentar encontrar um eventual interessado na compra da fábrica ou numa parceria para a sua gestão de forma a que a 'Afonso' continue por muitos e bons anos", referiu a gerente e trabalhadora. Conceição Pinhão assegura a gestão da fábrica desde 29 de Novembro de 2004, dia em que os patrões, dois empresários alemães, "desapareceram" depois de uma alegada tentativa frustrada de deslocalização. "Nesse dia, e já fora do horário laboral, eles tentaram retirar do interior da fábrica tecidos e máquinas, para levar tudo para a República Checa, o que só não conseguiram devido à pronta oposição dos trabalhadores", referiu Conceição Pinhão. Desde então, a trabalhadora, de 43 anos de idade, 24 dos quais passados a trabalhar na área das confecções, assumiu o papel de "mulher do leme" da empresa que, assim, e com a colaboração e empenho dos 90 trabalhadores, continua a laborar em pleno, assumindo novas encomendas e pagando os salários a tempo e horas. "Até agora nunca tivemos falta de encomendas", disse Conceição Pinhão. Os trabalhadores apenas têm em atraso o subsídio de Natal de 2004, que ainda não foi possível pagar por causa de uma dívida de 70 mil euros dos desaparecidos patrões, que também eram clientes da fábrica. A empresa tinha ainda uma dívida de cerca de 77 mil euros à Segurança Social, "que está a ser paga nos moldes estabelecidos num acordo entretanto alcançado". Em Novembro de 2004, "de um dia para o outro", e a exemplo do que vai acontecendo um pouco por todo o país, os patrões decidiram optar pela deslocalização para a República Checa, onde a mão-de-obra é substancialmente mais barata. "A ideia deles era levar tudo o que pudessem e deixar toda esta gente de mãos a abanar", sublinhou Conceição Pinhão. Por isso, e para evitar "uma qualquer surpresa desagradável", os trabalhadores revezaram-se, durante longos meses, em vigílias nocturnas nas instalações da empresa, uma medida entretanto substituída por uma vigilância "mais discreta", até porque junto ao portão de cargas e descargas continua uma "pedra enorme". Um pedregulho que finalmente vai ser retirado, porque agora já está "preto no branco" que a fábrica já não pertence aos alemães, mas sim a Conceição Pinhão. "Enquanto tivermos forças, vamos lutar pela sobrevivência da fábrica", assegurou a gerente-trabalhadora, lembrando que das 90 pessoas que ali trabalham dependem 270 bocas, muitas das quais ficariam "certamente em muitos maus lençóis" caso a empresa fechasse. Entretanto, e mesmo apesar de os seus ordenados serem, em média, de apenas 400 euros, cada um dos trabalhadores põe todas as semanas um euro de lado para uma aposta conjunta no "Euromilhões". "Pode ser que um dia a sorte nos bata à porta", suspira Conceição Pinhão.»
«A trabalhadora que em Novembro de 2004 assumiu o leme de uma empresa de confecções de Arcos de Valdevez na sequência do súbito "desaparecimento" dos patrões, acaba de comprar a fábrica por um euro. O anúncio foi hoje feito, em conferência de imprensa, pela referida trabalhadora, Conceição Pinhão, que acrescentou ter a escritura pública de compra da unidade fabril "Afonso - Produção de Vestuário" sido assinada na semana passada. A "Afonso" funciona há 16 anos na Zona Industrial de Paçô, em Arcos de Valdevez, em terrenos cedidos pela Câmara local a preços simbólicos, garantindo 90 postos de trabalho. "Finalmente, consegui adquirir das quotas da sociedade e agora vou continuar a desenvolver os contactos que já encetei para tentar encontrar um eventual interessado na compra da fábrica ou numa parceria para a sua gestão de forma a que a 'Afonso' continue por muitos e bons anos", referiu a gerente e trabalhadora. Conceição Pinhão assegura a gestão da fábrica desde 29 de Novembro de 2004, dia em que os patrões, dois empresários alemães, "desapareceram" depois de uma alegada tentativa frustrada de deslocalização. "Nesse dia, e já fora do horário laboral, eles tentaram retirar do interior da fábrica tecidos e máquinas, para levar tudo para a República Checa, o que só não conseguiram devido à pronta oposição dos trabalhadores", referiu Conceição Pinhão. Desde então, a trabalhadora, de 43 anos de idade, 24 dos quais passados a trabalhar na área das confecções, assumiu o papel de "mulher do leme" da empresa que, assim, e com a colaboração e empenho dos 90 trabalhadores, continua a laborar em pleno, assumindo novas encomendas e pagando os salários a tempo e horas. "Até agora nunca tivemos falta de encomendas", disse Conceição Pinhão. Os trabalhadores apenas têm em atraso o subsídio de Natal de 2004, que ainda não foi possível pagar por causa de uma dívida de 70 mil euros dos desaparecidos patrões, que também eram clientes da fábrica. A empresa tinha ainda uma dívida de cerca de 77 mil euros à Segurança Social, "que está a ser paga nos moldes estabelecidos num acordo entretanto alcançado". Em Novembro de 2004, "de um dia para o outro", e a exemplo do que vai acontecendo um pouco por todo o país, os patrões decidiram optar pela deslocalização para a República Checa, onde a mão-de-obra é substancialmente mais barata. "A ideia deles era levar tudo o que pudessem e deixar toda esta gente de mãos a abanar", sublinhou Conceição Pinhão. Por isso, e para evitar "uma qualquer surpresa desagradável", os trabalhadores revezaram-se, durante longos meses, em vigílias nocturnas nas instalações da empresa, uma medida entretanto substituída por uma vigilância "mais discreta", até porque junto ao portão de cargas e descargas continua uma "pedra enorme". Um pedregulho que finalmente vai ser retirado, porque agora já está "preto no branco" que a fábrica já não pertence aos alemães, mas sim a Conceição Pinhão. "Enquanto tivermos forças, vamos lutar pela sobrevivência da fábrica", assegurou a gerente-trabalhadora, lembrando que das 90 pessoas que ali trabalham dependem 270 bocas, muitas das quais ficariam "certamente em muitos maus lençóis" caso a empresa fechasse. Entretanto, e mesmo apesar de os seus ordenados serem, em média, de apenas 400 euros, cada um dos trabalhadores põe todas as semanas um euro de lado para uma aposta conjunta no "Euromilhões". "Pode ser que um dia a sorte nos bata à porta", suspira Conceição Pinhão.»
in (2006/01/18 Portugal Diário)
Eis uma notícia exemplar que merece o nosso sincero elogio. Mas também a nossa sincera indignação. Mostra que afinal empresas que são implantadas em Portugal e depois abandonadas pelos proprietários estrangeiros são afinal empresas viáveis. Portugal está a saque e não há uma lei comunitária que o impeça. Então esses senhores que abandonam o país deixando uma dívida ao Estado português não são apanhados? Mas então não há leis comunitárias, ou mesmo internacionais, que punam esses piratas do capital? Não há forma legal de coagir esses ladrões a pagar as dívidas que vão deixando atrás de si? Como é possível que as leis da livre concorrência permitam que esses pulhas vão fazer o mesmo na República Checa? É isto que é o Neo-liberalismo: a livre circulação de bandidos? E o Estado português? Não seria caso para premiar estes trabalhadores concedendo-lhes a isenção da dívida à Segurança Social que compraram ao adquirir a empresa? Infelizmente o Estado português apoia mais facilmente o investimento estrangeiro do que o investimento nacional. A não ser que sejam os negócios dos "amigos", claro.
Tão caloteiro é quem não paga a prestação do carro, a conta da mercearia ou quem foge sem pagar as suas dívidas. Queixas à Comissão Europeia já. Há que acabar com esta pouca vergonha
ResponderEliminarUna molt bona notícia: els mitjans de producció pel poble!
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