quinta-feira, janeiro 12, 2006

Não vi e não gostei


Cavaco Silva não pôde hoje disfarçar frente às cameras o trejeito retorcido dos ditadores. Ao ser confrontado pelos jornalistas sobre um assunto que não lhe era grato comentar – a entrevista dada por Santana Lopes – revelou uma vez mais graves sintomas da senilidade mental de que sofrem os ditadores. Foi como se, para engolir o desaforo de se ver contrariado pela vingançazinha santanista, engolisse em seco a própria dentadura e com ela o esgar de sorriso que lhe conhecemos. Desta vez não foi apenas embasbacamento, embora, como de outras vezes, se tenha dado pelo momento da paragem cerebral que televisivamente se prolonga interminavelmente por segundos. Em televisão segundos com a boca aberta podem significar mais do que mero embasbacamento e pagam-se caro: todos ficam com a impressão de que Cavaco não é só realmente um basbaque, mas um basbaque ditador que, por não poder dominar em si uma obstinação incontrolável própria dos ditadores, se esquece dos efeitos do seu (i)mediatismo. Os ditadores são maus actores, não sabem dissimular uma contrariedade. Confrontado com a contrariedade, eis a face retorcida do ditador que, sem graça, sem qualquer ironia, se refugia na mentira e no silêncio do não viu e não gostou.

"É indiscutível que Pinochet pesou e pesará no resultado destas eleições, porque a sua figura garante a permanência no poder dos dirigentes mais medíocres que a política chilena já deu, quer da Concertação quer da direita. Nenhum deles se atreverá a dar o passo ético reclamado pela sociedade chilena, estupefacta e indefesa perante a impunidade de um modelo social excludente que coloca nas mãos do mercado todas as decisões e que tudo justifica para bem do mercado."

Luís Sepúlveda, O General e o Juíz

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