segunda-feira, março 27, 2006

É de ficar com cara de tacho!

O estilo Sócrates, Luís Delgado

Bem ou mal, com obstinação e determinação, o PM está empenhado em mudar séculos de burocracia que imperam no país, e de uma forma radical. É preciso reconhecer, com honestidade, que o caminho é certo.
Portugal está velho, desarticulado, enredado em teias obscuras, e as novas medidas para facilitar e acabar com diversos processos administrativos obsoletos é uma decisão invulgar, que muitos Governos de centro direita e direita deveriam orgulhar-se em ter tomado.
É curioso que seja um socialista a fazê-lo, mas isso serve de lição ao PSD e PP. Um dia, se eles continuarem assim, deixam de ter espaço. É o perigo deste PM: ele absorveu tudo o que é bom da direita, e aplica sem dogmas nem problemas ao país. É mais uma razão para o PSD e o PP não perderem muito mais tempo a esclarecer os seus problemas internos.
Sob pena de ficarem sem agenda, nem ideais, nem alternativas para apresentar ao eleitorado. Sócrates sabe-a toda, e aprendeu muito com Clinton e Blair.
(Diário Digital, 26-03-2006 )

Luís Delgado, como comentador nitidamente de direita que é, está à beira do desespero. Mais um pouco e referiria o risco da perda do tacho dos partidos da direita e diria: “sob a pena de ficarmos sem agenda, etc. etc.", sem tacho. Com a perda da agenda política, da participação activa no poder, caem por terra os ideais da direita; ou seja os ideais da direita são estar no poder, manobrar o tacho, comer dele. E ainda por cima os que lá estão, estão a fazê-las bem, “sabe-a toda", como diz Luís Delgado, que julga sempre que a sabe toda [!] O cinismo com que diz que Sócrates escreve direito por linhas tortas, aplicando de uma forma radical aquilo que a direita não se pode orgulhar de ter sido ela a fazer. Mas será mesmo que não fez, quando esteve no poder? E as medidas da nossa dama de ferro, Ferreira Leite e do Bagão, norteadas pelo obstinado objectivo de cumprir o défice? Já na altura era admissível [!] que dentro da comunidade uns fossem obrigados a cumprir o défice e outros não serem penalizados por não o cumprir. Em termos comunitários parece uma aberração! Nós éramos dos cumpridores. Se o governo de Durão Barroso já tinha sido o que foi, o de Santana Lopes foi o descalabro. A inconsciência e o desespero apoderaram-se da imagem da direita. Santana Lopes dizia numa entrevista a um jornal ou revista alemã que o país não estava em crise. Ninguém o levou a sério e o Presidente achou melhor acabar com a fantochada diária, sabendo que o país não podia continuar a ser uma piada e que as coisas precisavam de ser levadas mais a sério. Sócrates ganhou a maioria em nome de um PS dividido entre a direita e a esquerda. Constâncio apareceu a dizer que a Economia estava muito pior do que todos imaginavam. Era mais uma vez a estratégia da consciencialização que o país estava em plena crise. Sempre a tragédia da crise, dramatizada por uns e por outros. Tão má era a situação que todos concordaram que o melhor era também eles se apressarem a deitar a mão ao tacho, e a administração aprovou a sua própria independência financeira: grandes ordenados, grandes reformas. Era pois preciso deitar mãos à obra, um governo determinado e teimoso que aplicasse ao país as políticas de direita rumo ao desenvolvimento, à produtividade e ao investimento. Para já vamos na fase das mudanças estruturais, depois hão-de vir outras… as piores [!] A estabilidade conferida pelos resultados presidenciais, o deus com os anjos de Sócrates e Cavaco, assim o permitirá.
Entretanto os problemas dos partidos de direita na oposição é quererem tacho e o tacho estar noutras mãos. Felizmente estão todos bem na vida, têm a empresa do papá, e ninguém tem pena deles, por não estarem no poder. Mas eles não estão contentes, não foram criados para estar na oposição, não sabem nem querem resistir. Por isso vão lutando uns com os outros pelo poder dentro do partido, treinando para lutar pelo poder dentro do poder, pelo mero facto de serem outros que ocupam os cargos, e não eles. Como podem partidos na oposição terem pena de não ser eles a aplicar tais medidas? O estilo de Sócrates consiste precisamente em aplicar mais e melhor as medidas da direita do que as próprias políticas de direita alguma vez o fizeram. Tornam-se medidas difíceis de combater sem morder no próprio rabo. Como se podem neste momento expressar os partidos de direita na oposição? Por despeito? Tipo: “Quem devia estar aí a fazer isso éramos nós, não vocês”?

A luta pelo poder dos partidos de direita actualmente é só uma luta pelo poder, sem outro fundamento para a oposição. A verdadeira oposição ao governo há-de ser, como sempre foi, exercida pelas classes trabalhadoras, pelos jovens no desemprego, pelos que pagam a crise, não pelos que lucram com ela. A oposição às políticas neo-liberais que já começou lá fora, cá no burgo irá inevitavelmente acontecer mais cedo ou mais tarde, face à retirada sistemática dos direitos dos cidadãos preconizada pelas políticas de direita de uns e de outros: quer as do PS de direita, no poder, quer as dos partidos de direita impacientemente em stand by.

3 comentários:

  1. Num país em que o maior partido da esquerda é de direita acabamos a ver a direita a rabiar sobre a sua própria cauda.

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  2. Um cata-vento que aponta sempre para a direita.

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  3. Quem ouvia o Homem na altura do Santana e quem o ouve agora nem acredita que é a mesma pessoa. Fiel quanto baste, que um tachito faz sempre falta, venha ele de onde venha.

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