Em Portugal cada vez é mais notório o fosso entre ricos e pobres. E se quem já nasceu pobre dificilmente poderá compreender ou mesmo imaginar determinadas quantias astronómicas de que hoje em dia se ouve tratar por tu cá tu lá quando se fala de grandes negociatas, também o contrário se parece verificar. A maioria dos nossos neo-liberalistas fala da pobreza alheia como se falasse de um filme. Não tem a mínima noção do que é não ter dinheiro para dar de comer aos filhos ou passar a noite ao relento numa escada. Fala de desemprego como se fosse uma situação banal e corriqueira, sem a qual o mundo não faria qualquer sentido, fazendo lembrar aquela concepção conformista, miserabilista, tacanha, salazarenta e, infelizmente, realista: “desde que o mundo é mundo, sempre houve ricos e pobres”. Só que os pobres estão a aumentar todos os dias, como o desemprego, o que até é normal que aconteça. Hoje em dia não basta nascer pobre, pode-se de repente ser tornado pobre. Não é preciso muito, basta que a empresa onde trabalhamos há vários anos entre em “reestruturação”; ou que a fábrica onde trabalhamos passe a ser mais lucrativa se for deslocada para a Polónia; ou que venha uma OPA e tome conta de empresa onde até então julgávamos ser uns gajos de sorte por ter um bom emprego. Basta isto, ou até menos que isto. Só que andam para aí uns gajos que devem julgar que nasceram com o cú voltado para a lua e que julgam ter direito a tudo (conta bancária choruda, carros de luxo, férias de sonho, Spas a toda a hora, piscinas, condomínios privados, fatos de marca à Padrinho, que agora curiosamente voltou a ser um sinal de status que toda a máfia das negociatas que se preza, desde o economistazeco até ao senhor empresário de sucesso, deve exibir, como uma fardeta distintiva); enquanto existem outros, os pobres coitados, de quem eles na verdade nem sequer sentem pena, apenas um certo nojo por não cheirarem a Boss, mas sim a miséria, que são considerados carne para canhão. Segundo a teoria economicista dos primeiros, estes não devem ter direitos, nem subsídios, nem educação, nem saúde, nem precisam de comer, pois quem não tem dinheiro, não tem vícios!
O meu vizinho era uma pessoa com uma vida normal: não era nenhum maltrapilho, tinha emprego, uma mulher mal empregada, mas que sempre ia levando um dinheirinho para ajudar e, ao menos isso, uma casa própria. Tem uns sessenta anos, o meu vizinho. Deixou de ser preciso como motorista e foi para o desemprego. Recebeu o subsídio enquanto pôde e a mulher lá ia ajudando. Um dia a mulher caiu quando fazia um recado à patroa. Estava perto e insistiu em ir para casa, cheia de dores no pé. Afinal tinha-o partido e a coisa estava feia. Teve que ser operada e quando ia a meio da fisioterapia a seguradora da patroa descartou-se das despesas. Alegou que não pagava nada porque ela tinha tido o acidente em casa.Tem oito testemunhas que viram o acidente e que a ajudaram mas também são uns pobres coitados e o advogado já disse que se a patroa se recusar a falar no tribunal, não vai ter grandes hipóteses. O pé começa a gangrenar e ela certamente não poderá mais ajudá-lo a ele, que está sem emprego, sem subsídio, sem nada. Dentro em breve terá todas as condições reunidas para se juntar à população crescente de desgraçados e só não será mais um sem-abrigo porque a única coisa que terá é a casa que é sua (se conseguir dinheiro para pagar a taxa autarquica ou não acabar por ter de a vender para poder comer).
Mas os senhores bem postos na vida, não falam com gente dessa, nem sequer devem ver filmes ou ler livros onde aparece gente dessa, e por isso não mostram ter a mínima consciência de que estas duras realidades existem. Dentro em pouco tempo tudo se passará como no Brasil. Levantarão de helicóptero do alto do seu condomínio privado e aterrarão na sua empresa privada para nem sequer correrem o risco de se cruzarem com essa ralé. E continuarão obstinadamente a aumentar a fasquia do lucro, a gerar mais desemprego e a subverter todas as formas de protecção social, não olhando a meios para atingir os seus fins, desprovidos de princípios humanistas, sem pensar nos vindouros, vivendo a todo o gás a era do capitalismo desenfreado.
O meu vizinho era uma pessoa com uma vida normal: não era nenhum maltrapilho, tinha emprego, uma mulher mal empregada, mas que sempre ia levando um dinheirinho para ajudar e, ao menos isso, uma casa própria. Tem uns sessenta anos, o meu vizinho. Deixou de ser preciso como motorista e foi para o desemprego. Recebeu o subsídio enquanto pôde e a mulher lá ia ajudando. Um dia a mulher caiu quando fazia um recado à patroa. Estava perto e insistiu em ir para casa, cheia de dores no pé. Afinal tinha-o partido e a coisa estava feia. Teve que ser operada e quando ia a meio da fisioterapia a seguradora da patroa descartou-se das despesas. Alegou que não pagava nada porque ela tinha tido o acidente em casa.Tem oito testemunhas que viram o acidente e que a ajudaram mas também são uns pobres coitados e o advogado já disse que se a patroa se recusar a falar no tribunal, não vai ter grandes hipóteses. O pé começa a gangrenar e ela certamente não poderá mais ajudá-lo a ele, que está sem emprego, sem subsídio, sem nada. Dentro em breve terá todas as condições reunidas para se juntar à população crescente de desgraçados e só não será mais um sem-abrigo porque a única coisa que terá é a casa que é sua (se conseguir dinheiro para pagar a taxa autarquica ou não acabar por ter de a vender para poder comer).
Mas os senhores bem postos na vida, não falam com gente dessa, nem sequer devem ver filmes ou ler livros onde aparece gente dessa, e por isso não mostram ter a mínima consciência de que estas duras realidades existem. Dentro em pouco tempo tudo se passará como no Brasil. Levantarão de helicóptero do alto do seu condomínio privado e aterrarão na sua empresa privada para nem sequer correrem o risco de se cruzarem com essa ralé. E continuarão obstinadamente a aumentar a fasquia do lucro, a gerar mais desemprego e a subverter todas as formas de protecção social, não olhando a meios para atingir os seus fins, desprovidos de princípios humanistas, sem pensar nos vindouros, vivendo a todo o gás a era do capitalismo desenfreado.
Casos como esse acontecem cada vez mais todos os dias. Com um estado incapaz de encontrar soluções só podemos esperar o aumento da miséria.
ResponderEliminarBem, a maioria dos neoliberais que povoam a blogoesfera e que ocupam os blogs de maior audiência têm todos algum tipo de prebenda no Estado (professores) ou como consultores do sector financeiro. Ou seja, estão isentos dos Riscos que defendem e isso retira-lhes muita (toda?) a autoridade Moral... Como ao Bessa que referiste em Post anterior.
ResponderEliminarCaro amigo KAOS: Estou fascinado com as suas montagens (e já aconselhei este Blog a vários amigos meus), e gostaria de lhe pedir uma coisa:
ResponderEliminarSerá que me pode mandar um mail, para que eu fique com o seu e lhe responda???? (para que o meu pedido fosse confidencial - queria encomendar-lhe 2 ou 3 montagens para publicar-mos em conjunto)! Faço-lhe toda a publicidade do mundo, em troca... Além disso sei de fonte segura que o meu Blog é lido por políticos à séria, pelo que começarão a visitar também o seu Blog...
Esperando que aceite
Um abraço do
Politicopata
O Kaos agora está nos hot links do Politicopata...
ResponderEliminarO Kaos agora está nos hot links do Politicopata...
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