O verdadeiro Milagre

Ver as cerimónias de Fátima sempre me fez impressão desde bem pequeno. Aquele arrastarem-se no chão, em nome de uma promessa milagrosamente resolvida, aquela fé tão real e irracional que se lê naquelas caras, subitamente transformam-se no irreal do racional. Vim depois a aprender, que também havia o futebol, com os golos do Eusébio e claro, a sentidamente honesta canção da rua, o nosso fado e a nossa Amália, que até recebia flores e aplausos no chiquíssimo Olympia de paris. Hoje já é considerada uma “musica do mundo”, ao lado das coladeras de Cabo Verde, da Salsa cubana, ou dos batuques do Burneu, embora o nosso fado continue a ser, vermos um país sempre na cauda de tudo, menos da corrupção. Futebol também temos, e muito, em doses diárias sem nunca esquecer os novos “Eusébios”, chamem-se eles Figos ou Ronaldos. Até temos na selecção um Mister que diz “Eu é que sei, faz o que o Mister manda” e que nos manda rezar para Fátima. Ouvi falar que lá estavam meio milhão de pessoas a pedir e a agradecer em nome da fé. Não seria melhor, em vez de se prostrarem e arrastarem pelo chão em nome do além, terem fé em si mesmos, levantarem-se a pedir e a exigir, em defesa da sua vida e do seu futuro? Talvez esse fosse mesmo o verdadeiro milagre que tantos anseiam.

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