Levar os alunos a reflectir sobre a sua própria condição humana é um objectivo cujo cumprimento todo o professor se deveria exigir. No entanto, actualmente, tudo parece conjugado no sentido de o impedir, assistindo-se à mais completa infantilização e imbecilização dos alunos, através da elaboração de programas e esvaziamento dos seus conteúdos e imposição de estranhas pedagogias, que mais não fazem que acentuar o fosso entre ricos e pobres. É porque rejeito este status quo que sou apelidada pelo Ministério de Educação de elitista e por isso lhes respondi que elitistas seriam eles e as suas orientações, pois se não fosse a Escola a acrescentar algo ao discurso que os alunos, socialmente mais fragilizados, trazem de casa, quem o faria?
Pedagogo e intérprete da nobreza da pedagogia, o grande maestro e violinista Yehudi Menuhin salientou a importância da Cultura e da Arte no Ensino, dirigido a todos sem excepção, referindo a Escola como o lugar privilegiado para o fazer. Não se concretizando este objectivo fundamental, continua Menuhin, estaremos «a criar monstros», ou seja, pessoas insensíveis à sua própria condição humana.
Somos todos conhecedores da violência que grassa na Escola, denunciando a irresponsabilidade de quem pratica esses actos, a que se associa a ausência de valores humanistas. Na minha Escola, por exemplo, um aluno justificou candidamente que «só atirara a cabeça do colega contra a parede», quase indiferente às consequências do seu gesto brutal, de que resultou um traumatismo craniano para o seu companheiro.
A par da violência na Escola caminha a falta de exigência, com a agravante da última ser veiculada pelo próprio Ministério da Educação, cujas orientações vão no sentido do facilitismo lúdico e do recreio na sala de aula, transformando-se o professor no camarada, que sabe tanto quanto o aluno. Ao desvirtuar-se a relação Ensinar – Aprender, esquece-se a missão de um professor e o belíssimo significado da palavra «aprender», ou seja, «prender a si próprio». O que se passa com a disciplina de Português, que lecciono, é bem exemplo dessa situação. A Literatura, que é uma Arte e não um mero tipo de texto, e associada a outras expressões artísticas nos ajuda a descobrir o mistério que somos, mistério que é também a palavra-chave em toda a ciência, é agora perversamente subestimada, tendo sido ultrapassada pelos textos dos MEDIA e pelos textos normativos. De referir ainda a estratégia da cruz e do verdadeiro e falso utilizada vergonhosamente na interpretação dos textos literários e nos próprios exames. É óbvio que isto só se consegue com a cumplicidade dos professores que aceitam obedientemente estas directrizes, não as questionando sequer.
Há uma frase sublime de Henri Thoreau que me acompanha e que nos aconselha a resistir e a desobedecer. Ei-la: «Resiste muito. Obedece pouco». Esta é uma das mensagens que desejo deixar-vos, a par do texto poético de Álvaro de Campos e da história de Demógenes e do seu prato de lentilhas.
Maria do Carmo Vieira - Abril 2007
Infelizmente não encontrei links nem para o texto de Alvaro de campos, nem para a história de Demógenes, que eram a cereja em cima do bolo, mas o bolo em si já é suficientemente saboroso.
Contributo para o Echelon: spies, IWO, eavesdropping
Para dizer o que penso desta criatura, ou da que faz de ministra da cultura, só mesmo usando calão...
ResponderEliminarA política de educação do PS é feita à medida do engenheiro sócrates. e mais não é preciso acrescentar.
Fiquei mesmo sem palavras. O contribuinte diz tudo. São uma nulidade abaixo do próprio zero.
ResponderEliminarBomfds
A questão é mais abrangente, não se limita só à escola, mina também outras áreas. É do conhecimento geral que a tropa cultivava valores, tais como, a camaradagem e a ajuda ao próximo. Pois bem, aqui há uns tempos, um amigo meu, sargento, disse-me que passados mais de 20 anos depois de terminar o curso, voltou à Escola de Sargentos e viu os alunos passar com uma altivez exagerada e escassos em regras e boa educação. Pergunta a um conhecido de longa data o porquê desta situação, ao que este respondeu que estavam proibidos de os chamar à atenção, que as ordens tinham vindo de Lisboa e que não havia nada a fazer, o melhor é ignorá-los para não arranjar problemas que estão super protegidos pelo Comandante. Foi aí que ele se recordou dos individualistas que andam pelas unidades, sem qualquer sentimento de pertença e de grupo e pensou, se um dia entrarmos em guerra, o melhor é contratar mercenários do que partir com estes individuos para combate. A família ignora-os, a escola despreza-os e à tropa tiraram-lhe os meios para os poder reeducar. O Slogan de hoje é: Se puder emigrar, não fique neste jardim de ervas daninhas.
ResponderEliminarTodos os santos dias digo á minha filha mais velha emigra , emigra filha ,que aqui nunca vais conseguir respirar .(é designer industrial em Paços de Ferreira , a zona do país onde existem mais ferraris por metro quadrado do que moscas)No entanto todos sabem na fabrica que existe uma contabilidade paralela bufar para as finanças para quê ?! A mulher do dono é chefe da repartiçao de finanças local!!!
ResponderEliminarOra porra...
O salrio da miuda não passa de uma esmola ,650 euros e muito calada, a trabalhar de terça a sabado na fabrica e ao domingo na loja da mesma a desenvolver os projectos dos móveis que eventualmente se poderão vender...á segunda poderá folgar se não hover nenhuma feira nacional ou internacional...escravatura.
Isto é mesmo um rectangulo de ervas daninhas...o Socretino e o Teixeira não saem de lá a darem abébias ao sueco que lá vai montar a fabrica da Ikea...são abébias atraz de abébias ...desapropriaram terrenos de lavoura para darem ao pobrezinho do sueco ...coitadinho!
Corjaaaaaaaaaaaa.
Beijão grande
De facto, como professor de Português, sinto exactamente o mesmo que a colega Maria do Carmo exprime no seu texto. E porque, felizmente, ainda ninguém me alterou o cérebro, continuo a orientar o meu trabalho, com o que posso e sei, para ter pessoas que possam, saibam e compreendam qual o caminho que querem seguir. Fácil não é. Todavia, fica-me a satisfação de que o meu trabalho foi realizado no sentido de criar cidadãos livres e responsáveis, pois as duas coisas não podem ser separadas.
ResponderEliminarContribuinte:
ResponderEliminarO que desejei mostrar é que ainda há quem resista e pense neste país e que devemos juntar forças para travar isto. É o futuro dos nossos filhos que está em causa
abraço
Cris:
ResponderEliminarMas sabe bem ouvir outros a saber o que dizem e a lutarem por isso. Dá esperança
bjs
anonimo:
ResponderEliminarA questão é geral e tem a ver com a opção liberalista da política económica atual. Mas, um dos locais mais graves é a escola pois ainda apanham jovens abertos a absorver conhecimento. Se aquilo que lhes dão não presta dificilmente no futuro serão livres pensadores
abraço
laurentina:
ResponderEliminarA situação actual do emprego e da maior flexibilidade que lhe querem acrescentar é transformar o trabalhador numa máquina, em que é mais importante a produção que a sua propria vida privada, filhos, marido ou mulher. os valores estão todos subvertidos.
bjs
anonimo:
ResponderEliminarO que descreves é aquilo que mais tarde recordamos como aquele bom professor que tivemos. Continua, tu, a maria do carmo e todos os outros que ainda acreditam que no ensino é o aluno o mais importante.
abraço