terça-feira, janeiro 08, 2008

Manifesto Convivencial ou a Arte de Resistir

Maria Lurdes Rodrigues

Este texto foi publicado no blog "O Cartel" e porque diz tudo como eu nunca seria capaz de dizer aqui o deixo sem mais palavras.

"Não sei por onde vou / Não sei para onde vou / Sei que não vou por aí.
Com o grito rasgado do poema de José Régio começo o meu manifesto convivencial ou a arte de resistir. Chegou também a minha hora de dizer: Basta!!! E irei assim intervir civicamente na vida pública deste país.

Prometo resistir de forma pacífica, mas muito activa, a este permanente, sistemático e ardiloso ataque ao Sistema Educativo Português. Atenção que ainda estou a chamá-lo Sistema Educativo e não Sistema Produtivo que é aquilo em que o querem transformar. O triste é que o Ministério da Educação se tenha convertido num Ministério de Produção. O paradigma que preside e orienta as novas reformas educativas é sem dúvida o paradigma industrial, empresarial e produtivo. A transformação da escola numa empresa e do processo ensino e aprendizagem num processo produtivo pressupõe a metamorfose do aluno em matéria prima e do professor num fabricante de objectos.

Pensava eu que o aluno era um ser humano único e irrepetível, um tesouro incomensurável que nunca poderia ser reduzido à dimensão de um objecto, pela sua transcendência e grandeza. Afinal estava enganado!

Pensava eu que a relação pedagógica se revestia de um carácter extraordinário, quase miraculoso. Julgava que o professor era muito mais que um mero executante ou manipulador de objectos. Concebia o professor como um ser especial com a mais digna e nobre missão: ajudar a formar pessoas. Confesso que estava errado nos meus pressupostos.
No inicio da legislatura, a Sra. Ministra utilizou um argumento absolutamente definidor da sua concepção de Educação. O investimento no ensino cresceu – dizia – nos últimos vinte anos tanto por cento (não me lembro quanto!) e o sucesso escolar não acompanhou esse crescimento; retirava daí o seguinte corolário: os professores são culpados e devemos fazer com que os professores produzam mais sucesso.
Para que os professores se tornem mais produtivos devem passar mais tempo nas escolas e em paralelo é necessário que os alunos também passem mais tempo a aprender. Este é o pensamento da regra de três simples ou da proporcionalidade directa. Mais tempo a produzir maior produção, maior espaço temporal a aprender maior volume de aprendizagens adquirido. Fabuloso!!! Uma ideia genial. Como é possível que não tenha sido pensada antes? Será talvez porque os alunos não são pregos, nem parafusos, nem salsichas... nem outro objecto qualquer e os professores não são produtores de pregos, nem parafusos... nem de outra coisa qualquer? Será talvez porque uma criança não é equiparável a nenhum objecto por mais precioso que este seja?

Esta ideia de que mais tempo nas escolas por parte dos alunos equivale a mais e melhores aprendizagens corresponderá à realidade? Bom se é assim tão simples, eu proponho que os alunos portugueses comecem a pernoitar nas escolas e passem também os fins de semana e férias nas instituições escolares. E desde já auguro que em vez de 22% na diminuição do insucesso escolar em dois anos, como aconteceu até aqui – segundo a ministra – atingiremos, estou certo disso, nos próximos dois anos um país repleto de jovens sábios!!!

A fórmula mágica que a Sra. Ministra encontrou pode ser a solução para as finanças públicas a curto prazo, mas tenho a certeza absoluta que não é o bom caminho para uma educação integral, saudável e digna. No imediato poupou milhões de euros e publicitou que tornou o ensino mais eficaz. Posso afiançar-lhe que, a longo prazo, destruiu um sistema de escola pública, que podia ter muitos defeitos mas tinha grandes potencialidades que acabou por arrasar e delapidar de forma irreversível.

Transferiu os problemas imediatos para o futuro. Os alunos actuais crescerão e irão ser adultos pouco equilibrados e pouco saudáveis mentalmente, e a Sra Ministra contribuiu em muito para que tal acontecesse.

Os milhões que poupou na educação, posso assegurar-lhe, que irão ser investidos no futuro, na construção de novos hospitais psiquiátricos e prisões, e esses recursos que poupou não chegarão.

A ministra tocou de forma muito imprudente e precipitada num mecanismo muito complexo que é a educação e formação das pessoas. Fez contas de merceeiro e simplificou de forma irresponsável aquilo que é enigmático e problemático por natureza. Foi uma opção!!! A Sra. Ministra é a prova provada de como uma única pessoa determinada mas imprudente pode fazer tanto mal a tanta gente no imediato e no futuro, pois as seqüelas destas decisões arrastar-se-ão por gerações.

António Duarte Morais
Escola Básica Integrada de Eixo

10 comentários:

  1. Sem tirar nem pôr. Foi fácil e rápido destruir uma sistema que era construído lentamente, constantemente atingido pelos desmandos das sucessivas equipas ministeriais. A sra Lurdes cortou o mal pela raiz, destrui tudo e montou uma tenda!
    Um dia vai sair do ministério e ninguém lhe vai pedir pos contas!

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  2. Anónimo8/1/08 11:30

    Não tenham dúvidas. Mas eu não esqueço o que as presentes equipas dos ministérios da Educação e do Ensino Superior estão a fazer aos profissionais de ensino e sobretudo aos alunos e ao seu futuro. Escolas transformadas em fábricas, professores e alunos em enchidos e futuro hipotecado. Enquanto for possível e tiver forças, a minha voz e as minhas acções não pararão...

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  3. Que lindo:

    "Crianças têm aulas em casa mortuária"

    http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=900487&div_id=291

    estás tudo doido ou quê?

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  4. Ah, pilhei-te uma imagem da socratina... LOL


    Beijoca*

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  5. Anónimo8/1/08 18:58

    Deixo apenas esta questão:

    Afinal o que é que objectivamente melhorou no sistema público de ensino nacional desde que este governo tomou possou ??? tirando a propaganda, melhorias reais vejo muito pouco !!!

    Poucas melhorias para tantas asneiras !

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  6. pata negra:
    Importante é correr com esta gente e voltar a montar tudo de novo (de preferencia bem). Perdem-se anos de trabalho, mas sempre será melhor que manter tudo como está
    abraço

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  7. brotero:
    Grave para mim é ver os alunos transformados em gente habituada a ser vigiada e comandada, s ficarem como máquinas que servem os seus senhores.
    abraço

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  8. inha:
    Enquanto nas as fizerem ter aulas dentro de campas já não é mau.
    Sabes que podes pilhar tudo o que desejares. É para isso que este blog serve
    bjs

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  9. manuel:
    Não melhorou nada, só piorou. Claro que conseguem mostrar melhores notas e menos chumbos, mas é tudo para a estatistica. A verdade é bem mais triste.
    abraço

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  10. Anónimo9/1/08 20:23

    Não é patroa de nada. Em termos de política, este país só tem um patrão, com muitos consultores e mentores.

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