segunda-feira, fevereiro 18, 2008

O que valem as notícias?

 José António Saraiva

«Paulo Teixeira Pinto dizia por estes dias, de forma lapidar, que os portugueses falam hoje muito do que não sabem e discutem coisas que não interessam nada. De facto, somos capazes de passar horas e horas a discutir o diploma de engenheiro que Sócrates tirou ou não tirou. Mas temos pouca paciência, por exemplo, para ouvir falar da natalidade. Somos capazes de levar tardes inteiras no Parlamento a debater o problema dos aviões da CIA que terão ou não sobrevoado território português. Mas ainda não fizemos um debate a sério sobre o ensino. Ocupamos serões em casa e nas estações de televisão a discutir uma frase sobre o ‘caso Maddie’ que o director da PJ deixou cair numa entrevista. Mas não dedicamos uma hora seguida a debater o problema do primeiro emprego. Divertimo-nos a parodiar os projectos de engenharia que terão sido indevidamente ou não assinados por Sócrates há 20 anos. Mas temos pouco interesse em falar do despovoamento. Discute-se com calor a eventual passagem do edifício do Casino Lisboa para a Estoril-Sol daqui a 20 anos. Mas a ninguém ocorre falar da solidão urbana. Andamos entretidos num jogo de ilusão em que todos os dias é necessário criar factos políticos e escândalos forçados para alimentar o monstro mediático; e depois, sobre estes factos e estes escândalos, construímos enredos, exigimos a demissão de ministros e outros responsáveis políticos, quando não do Governo inteiro. Numa ditadura, isto resolvia-se facilmente. Em democracia exige tempo e nervos de aço. Uma coisa é certa: discutir as casas que Sócrates projectou ou os aviões da CIA pode ser muito divertido – mas não nos levará a lado nenhum.» José António Saraiva no “Sol

Pode ter razão o Paulo Teixeira Pinto quando diz que falamos daquilo que não sabemos, mas a culpa disso é dele e dos da sua laia que, nos corredores do poder e nos gabinetes do grande capital, conspiram em silencio a melhor forma de usurparem os nossos direitos, contornarem ou criarem leis à sua medida e de como enriquecerem passando por cima de tudo e de todos. Perante isto só podemos falar dos pequenos sinais que vamos vislumbrando e esses, são demasiado graves para que não lhes prestemos atenção.
O JAS vem concordar e dizer-nos que sabermos se o Primeiro-ministro, para além de não ter estética também não tem ética é um caso menor. Sermos governados por quem subiu na vida com aldrabices, compadrios e mentiras não tem a menor importância. Também o sermos cúmplices em crimes contra o direito internacional, contra os direitos humanos, ao silenciarmos as responsabilidades nos voos da Cia é irrelevante. Os casos de corrupção são pormenores a que não devemos dar grande atenção. Devemos deixar que ladrões ocupem cargos públicos e deles retirem benefícios tanto para si como para os amigos. O jeito que o silencio sobre estes assuntos davam a muita gente.
Claro que o aumento da natalidade, o ensino, a desertificação do interior e muitos outros assuntos são importantíssimos e só são falados em cinzentos debates perdidos nas horas mortas das televisões, mas aí a culpa de uma comunicação social onde contam mais as audiências que os problemas do país. Seja como for, esses são problemas que o estado não coloca como prioridades, nunca nenhum colocou, pelo que quanto maior for o silencio melhor. Basta ver que cada medida que tomam sobre estes assuntos só os agrava, como aconteceu com as urgências.
Aproveito para dizer ao senhor JAS que ele é director de um jornal, que faz a capa da sua última edição com um caso de corrupção de um autarca na Figueira da Foz. Acabei de desfolhar o jornal e só encontro escândalos e notícias sensacionalistas e nenhum artigo a discutir os assuntos que diz serem tão importantes. Porque não começa o seu jornal a dar o exemplo?

Contribuição para o Echelon: Kwajalein, LHI

5 comentários:

  1. E se pusessemos as coisas de outra
    maneira?
    Será que eles sabem do que nós falamos? Sabem por exemplo viver com o ordenado minimo ou com uma reforma de miséria?
    Claro que não e estão-se pouco borrifando. Esta gentinha criou um mundo à parte onde têm tudo:
    Condominios privados,colégios,clinicas,spas,resorts,casas de p...enfim
    tudo aquilo que lhes faz falta.
    Eles querem saber o que é dificuldades.

    Beijokas

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  2. JAS, PTP e numa ditadura se tratava do problema deles,na maior!Ah,pois é,bébé!
    O arquitecto está mesmo um asqueroso.Arquitecto não leio os vossos jornais,nem vou à missa .já tou a ver,pq fala no PTPinto -é tudo psicopatas da Opus Dei

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  3. Tens pois muita razão
    na crítica neste momento
    Teixeira Pinto foi um comilão
    no BCP do desinvestimento

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  4. Depois do que aí diz o Kaos, tudo dito, resta sublinhar a decência, a honestidade desses senhores, que na sua hipocrisia, coitados, moídos do cilício da disciplina opus, se devem julgar uns puros, e é evidente que não passam de uns dissimulados, que deus ma livre, do piorio, de uns risíveis pobres diabos que a comunicação vai protegendo, subserviente, do caray, e nós é que temos taras, obsessões...

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  5. Sabemos que as Relações Públicas são fundamentais para "formatar a cabeça" da carneirada. A propaganda política leva à escolha das marionetas ideais para atraírem a atenção dos espectadores, por isso, a escolha das tristes figurinhas que compõem o (des)governo não foi aleatória... Enquanto os papalvos assistem à farsa, nos bastidores, movimentam-se livremente os verdadeiros actores!

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