sexta-feira, maio 02, 2008

A mentira da competitividade

O engraixador

Adaptado do quadro "The Policeman's daughter" dePaula Rego


Não há festança onde não vá a dona Constança assim como não há governo que não queira mudar a lei laboral. Não sei porque vai a dona Constança à festança, mas entendo perfeitamente porque querem os governos mudar a lei laboral. Todos os governos dos últimos anos fazem parte de uma ideologia liberal e que se apoia, ideologicamente e economicamente no patronato. Todas as alterações à lei têm sido feitas com a perda de direitos de quem trabalha e para servir as ambições dos patrões. Invariavelmente cria-se um conflito entre os sindicatos, representando os trabalhadores e o governo, os patrões. Todas as alterações são sempre baseadas em conceitos como a “produtividade” ou “competitividade”, conceitos em que cabem todas as alterações que desejem fazer. É evidente que cada direito, cada regra são consideradas como constrangimentos a esses dois conceitos e por isso necessários de acabar ou alterar. A possibilidade de despedir, não haver limites horários, não haver nem direitos nem regras serão sempre mais valias para quem manda, mas torna quem obedece indefeso aos abusos.
Até à invenção de cada nova lei, tudo funciona, as grandes empresas, aquelas que mais lutam por essa nova lei, aumentam os lucros todos os anos, mas querem mais e mais. Agora é a “competitividade” que vale, a necessidade de flexibilizar para combater a concorrência das empresas Indianas e Chinesas. Mas não estaremos a ver todo este problema na perspectiva errada? Não deveriam os governos defender a população, os cidadãos deste país, os que trabalham e não aqueles que só pretendem aumentar os seus lucros? Não deveríamos não aceitar a concorrência daqueles que não respeitam os seus trabalhadores e os seus cidadãos? Como aceitamos jogar um jogo sem regras se não aceitarmos sujeitar o nosso povo a essa mesma falta de regras? Devemos baixar ainda mais os nossos salários e o nosso nível de vida para ficarmos equiparados a eles? Deveríamos aceitar a existência de trabalho infantil? Deveríamos legalizar o uso do chicote? Até onde se pretende ir na “flexibilização” da nossa lei laboral? Agora um pouco, daqui a quatro anos mais um pouco e mais e mais e mais. Até quando? Quando considerarão eles que a lei laboral é suficientemente competitiva? Quando não houver nenhuma? Será que só nos deveremos revoltar no dia em que o nosso patrão nos mandar limpar-lhe as botas? Ou deverá ser já hoje, enquanto ainda há quem pode falar, ainda há quem possa lutar. O que está mal não são os direitos de quem trabalha, o poder ter alguma dignidade, o que está mal é o sistema que diz só poder funcionar se esses direitos e essa dignidade não existirem. Um sistema que não sirva os interesses de quem trabalha, de quem vive neste país não nos serve para nada, pelo que mudar a lei nada resolve. Mude-se o sistema que deixa de ser necessário mudar a lei.

Contributo para o Echelon: 15kg, DUVDEVAN

1 comentário:

  1. Anónimo2/5/08 10:37

    Como pode um sistema neo-liberal, com governantes encostados ao capital explorador, fazer leis que nos protejam, só um tolo poderá pensar que sim.

    Que se pode esperar dum sistema em que os seus mentores aprenderam com os exploradores de antanho, mesmo que em alguns, ainda lhes sobre algumas ideias de esquerda, são imediatamente escorraçados, exemplos não faltam.

    Abraço

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