O passeio do meu cão

Um dos grandes momentos de alegria, do meu cão é quando, todas as noites após o jantar, o levo a dar um passeio. Ele dá pulos e saltos de alegria e, andar um pouco todos os dias, além de fazer bem, dá-me tempo para relaxar e pensar um pouco. São momentos agradáveis, mas ultimamente, cada vez mais, nos cruzamos, eu e o meu cão, com homens e mulheres, dos mais jovens aos mais idosos, a remexer no lixo dos outros. Buscam restos de comida, roupas ou qualquer outra coisa que possam aproveitar. Há algum tempo atrás eram só alguns sem abrigo que se viam a rondar os caixotes, mas ultimamente tem crescido o número de pessoas, limpas, sem as roupas rasgadas ou sujas, o que me leva a pensar que deverão ter onde viver e que se sentem na necessidade de, também elas, procurar ajuda naquilo que para outros já não prestava. Não há nada mais degradante que ver alguém retirar a mão de dentro de um caixote com um bocado de pão ou uma fruta estragada e comer. Todas as noites vejo isto acontecer e, no meu egoísmo, fico chocado e a desejar não ter passado por ali naquele momento. Só que cada vez está mais difícil, dar o meu passeio, e escapar a todos esses momentos em que isso acontece. E, isso também não resolve nada a não ser, tornar o meu passeio mais agradável. Mas, será bom que o meu passeio seja mais agradável? Será que algum de nós merece dar um passeio agradável enquanto permitirmos que estas situações existam?

Talvez devêssemos oferecer um cãozinho e uma trela ao Cavaco, outro ao Sócrates e aos Ministros, Políticos, Banqueiros, Economistas, Opeiros, Belmiros e gente dessa raça e mandá-los passear o bicho, todas as noites, pelas ruas de Belém, S. Bento ou qualquer outra de Lisboa e arredores. Quem sabe essa pobreza lhes oferecesse algo que eles não imaginam, a visão da miséria e, esperemos, um pouco de consciência.
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Contribuição para o Echelon: THAAD, package