sábado, outubro 27, 2007

Bíblia de Teixeira dos Santos:

Uma, senão a melhor coisa deste blog é o, desde sempre, ter contado com vistas, não em quantidade, mas em qualidade, que justificam que eu vá continuando a deixar este jardim aberto. São elas que me dão o animo nos momentos em que me pergunto se vale a pena continuar. O texto do comentário do joaopft no post "A inocência de Teixeira dos Santos" é a prova provada disso e aqui o transcrevo.

Bíblia de Teixeira dos Santos:

Herbert Hoover, presidente dos EUA de 1928 a 1932, assistiu ao crash da bolsa de Nova Iorque de 1929 e ao início da Grande Depressão. Mesmo perante uma situação económica que se agravava continuamente, Hoover nunca deixou de defender o mais estrito liberalismo económico, ditando que o governo federal não iria intervir na economia, limitando-se a deixar que a economia se regenerasse por si própria. Hoover argumentava que a nação saíra do buraco se as famílias americanas mostrassem determinação férrea, continuassem a trabalhar no duro e contassem apenas consigo próprias para resolver os seus problemas.


O pânico económico causado pelo crash de 1929 evoluiu rapidamente para a depressão mais forte de que havia memória. Muitos milhões perderam os seus empregos, muitos passaram fome quando as fábricas despediram trabalhadores em massa, de forma a cortar draconianamente a produção e a despesa. Bairros de barracas, chamados de "Hoovervilles", apareceram do dia para a noite em todas as grandes cidades, povoados com os sem-abrigo e os desempregados.


Os veteranos da 1ª Guerra Mundial, agora de meia-idade, foram um grupo muito atingido pela depressão. Mais de 20000 veteranos marcharam sobre Washington D.C., no Verão de 1932. Formaram uma Hooverville gigante e nojenta, mesmo em frente ao Capitólio, exigindo do Congresso o prometido pagamento do bónus pelos serviços prestados na guerra. O presidente Hoover mandou o general MacArthur remover os veteranos. Trata-se do mesmo MacArthur que foi herói da 2ª Guerra Mundial, mais tarde despedido por Truman, durante a Guerra da Coreia, quando se preparava para iniciar uma guerra nuclear. As tropas de MacArthur usaram gás lacrimogéneo e fogo para dispersar o acampamento.


A recusa de Hoover em compreender o quão severo era a Grande Depressão só ajudou a aumentar os seus efeitos. Hoover poderia ter usado a sua autoridade para passar legislação que impusesse ordem na especulação financeira e providenciasse ajuda efectiva aos desempregados e aos sem-abrigo. Esta inacção, combinada com o tratamento dispensado aos veteranos da guerra e a sua opinião de que os americanos resolveriam o problema "trabalhando duro" convenceram os americanos de que o seu presidente era incapaz e desumano.


Em 1932, Hoover foi derrotado nas presidenciais por Franklin D. Roosevelt, e por larga margem. Roosevelt reagiu à depressão lançando o "New Deal", ou seja as bases do estado social que vigorou até à década 1990, altura em que o "New Deal" começou a ser activamente desmantelado pelo governo federal, a mando do capitalismo.

Contribuição para o Echelon: NATOA, sneakers, UXO

7 comentários:

  1. Sem dúvida um excelente apontamento esta transcrição. E contrariamente ao que muitos afirmam a história infelizmente repete-se sobretudo nos mais negros episódios. Estamos exactamente a viver de novo esse episódio da história o capitalismo apoderou-se dos povos sem que haja coragem para se registar uma nova mudança de rumo. Pois caro amigo Kaos se não fossem as suas oportunas abordagens talvez as suas visitas não se lembrariam de apontamentos como este que transcreveu, razão porque além de se justificar a manutenção deste espaço, julgo ser ele uma paragem obrigatória. Um abraço do Raul

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  2. O que se passa actualmente em Portugal é muito preocupante. Aconteceu em 1929 nos EUA aquilo que parece, embora a outra escala, esboçar-se neste país da periferia europeia. Veja-se tão somente o galopante desemprego em consequência de encerramentos em bloco de empresas, os 20% da população abaixo do limiar da pobreza, a continuada especulação bolsista e as grandes e duvidosas negociatas das quais sobressai o paradigmático conflito de interesses entre os mandarins do BPI-BCP que passam ao lado dos trabalhadores daquelas intituições.
    A nebulosidade é enorme e isto (leia-se, o país) está a ficar mesmo muito feio.

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  3. Olá Kaos , queria desafiá-lo a fazer aqui um post com (ou sobre) este vídeo para que todos possamos conhecer um pouco melhor o grande carácter do nosso PM

    http://www.youtube.com/watch?v=e9K9RxX_ecQ

    Manuel

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  4. Querido Kaos
    Os teus posts s�o de imensa qualidade e �s uma grande mais valia para a blogsfera! Continua sempre!
    um abra�o,

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  5. Kaos, o teu trabalho é uma inspiração para todos nós. Grande Hooverville, uma imagem que bem vale mil palavras!

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  6. A inflação parece estar a acordar, com bens de consumo corrente como o leite, o trigo e os combustíveis a sofrerem aumentos contínuos. Se a inflação disparar, os juros acompanharão obrigatoriamente a subida da inflação. Se, nessa circunstância, o nosso governo nada fizer para bonificar os juros dos empréstimos à habitação, em breve teremos Vilas Sócrates a surgirem por todo o lado, como cogumelos.

    Será preciso mobilizar as pessoas afectadas para o protesto, antes que os bancos nos renegoceiem as dívidas por forma a nos sugar ainda mais, para depois nos "comerem" as casas quando as deixarmos de pagar. Será difícil essa mobilização antes que as pessoas percebam bem o que lhes está a acontecer. Também será importante reivindicar objectivamente (como fizeram os veteranos da 1ª Guerra em 1932) exigindo algo bem definido e justo como sendo os juros bonificados. Esta medida, para ter o efeito desejado na vida das pessoas e na economia, teria que estender a todas as pessoas com crédito à habitação exclusivamente para casa própria. De resto, esta exigência é suportada pela própria Constituição, que afirma claramente o direito à habitação.

    Tem feito parte da propaganda do regime vitimizar o cidadão comum, culpando-o de um endividamento que, segundo as estatísticas oficiais, é esmagadoramente contraído para compra de habitação própria. Ou seja, o cidadão, acreditando no que capitalismo lhe impingiu, tratou de construir a sua vida com os mecanismos que lhe ofereceram. Como casas para alugar em bom estado e a preço decente era coisa que não havia (e esperar que o Estado ajudasse era ficar a ver navios) o nosso cidadão resolveu pôr mãos à obra, trabalhando cada vez mais no duro, submetendo-se à usura dos bancos e aos preços inflacionados dos construtores, promotores e das imobiliárias. O seu problema de habitação tinha que ser resolvido. Uma família, mesmo uma cada vez menos numerosa, precisa de um buraquinho pequenino mas condigno para viver.

    Sendo assim, o cidadão sobre-endividado é culpado, exactamente, de quê? Só se fôr de ter sido ingenuamente ludibriado pelo capitalismo. Só resta ao Estado respeitar a Constituição, pondo em prática políticas que defendam o direito do cidadão a habitação condigna.

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  7. Notável desconhecimento da história económica americana. Hoover foi um dos principais culpados da Grande Depressão porque agiu para contrariá-la com as mais absurdas políticas - aumentando a rigidez laboral por exemplo - o que só fez ampliar a crise.

    Quanto a Roosevelt, que antes da guerra declarava publicamente a sua admiração pela política económica italiana, e impôs limitações às liberdades civis hoje só comparáveis com as que vigoram com o Patriot Act, enfim...

    ...a sua "cura" só se reflectiu nos índices económicos quando o seu New Deal 2 foi declarado inconstitucional, e grande parte dos seus instrumentos de intervencionismo económico foram repelidos - daí a imensa prosperidade dos anos 50.

    Ou seja, o seu socialismo de modelo alemão só provocou o prolongamento de uma crise que teria sido compensada pelas forças de mercado.

    Mas se é recordado como um salvador, só pode ser um salvador, pois claro.

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