domingo, dezembro 09, 2007

Não há dinheiro...para alguns.

A besta

Através de um comentário anónimo aqui no blog, li este texto escrito pelo Professor Santana Castilho, no Público de 04.12.2007 e publicado no “In Verbis”.

"É legítima a revolta: então temos funcionalismo em excesso e depois vamos contratar serviços no exterior ? O refúgio dos políticos censurados na praça pública é geralmente a legalidade dos actos censurados. Como se a moral e a ética não existissem e não precedessem a invocação da capa asséptica da lei.
Nuno Guedes, jornalista do Rádio Clube Português, investigou, mas a notícia esvaiu-se no ruído dos escândalos a que nos habituámos Certamente que a situação descrita está coberta pelo manto diáfano da legalidade. Mas sob o holofote da moral causa-nos repulsa e merece que recordemos os factos denunciados: João Pedroso, advogado ilustre e irmão do ex-deputado Paulo Pedroso, do PS, foi contratado pela ministra da Educação para fazer o levantamento da legislação existente sobre Educação e elaborar um manual de direito da Educação. Os trabalhos deviam ter decorrido entre Junho de 2005 e Maio de 2006, com uma remuneração mensal de 1500 euros. Findo o prazo, não havia nem levantamento nem manual. Mas nada aconteceu. Ou, melhor, a mandante concluiu que o mandado estava a ser explorado e celebrou com ele novo contrato (despacho de Fevereiro de 2007) para fazer a mesma coisa: Mais um ano para a execução da tarefa, desta feita com 20 mil euros por mês. São inevitáveis as perguntas: é preciso mandar levantar (a ouro, em outsourcing) o que se levanta com um clique em n sítios da Net? Se assim não fosse, que é, não teria a ministra, no seu ministério, dezenas de funcionários competentes para levantar o que está de pé? E o que é isso de manual de direito de Educação, sendo certo que os diplomas vigentes estão sobejamente tratados e comentados por especialistas em múltiplas obras publicadas?
Seria vazio de sentido, face ao anterior, questionar a competência de João Pedroso para executar a encomenda de tão generoso contrato. Mas percorrendo a vastidão do seu curriculum e não lhe encontrando qualquer ligação ao particular ambiente da legislação educacional, sobra a questão: porquê ele e não outro, de tantos que têm o que ele não tem?
O conhecimento deste deplorável acontecimento surge quando ainda está vivo o desconforto da função pública face a um Orçamento Geral do Estado que fixa em 2,1 % o aumento dos salários, insuficiente para cobrir a inflação esperada e depois de uma perda do poder de compra próxima dos 10% desde 2000 (estatísticas oficiais). Mas, mais do que isto, coexiste com realidades menos conhecidas desse orçamento. Com efeito, o valor previsto para "remunerações certas e permanentes" volta a descer (tenha-se em vista que a descida dessa rubrica, durante a governação de Sócrates se cifra em valores que rondam os 500 milhões de euros). Como corolário desta nova descida resultarão, obviamente, despedimentos, reformas compulsivas e mobilidades especiais. E que verificamos, do mesmo passo, no orçamento para 2008? Que sobe exponencialmente a verba prevista para a compra de serviços a privados. São nada mais nada menos que 1200 milhões de euros para pareceres, consultadoria, aquisições em outsourcing, estudos e projectos. É legítima a revolta dos funcionários e lógica a interrogação: então temos funcionalismo público em excesso e depois vamos contratar serviços no exterior?
Sob a rosa murcha do PS bem pode Sócrates inscrever a máxima que o ilumina: para uns, nada. Para outros, tudo."

4 comentários:

  1. Não sejam mauzinhos!
    Olhem que o trabalho é mesmo difícil!

    Desde que o trio merdilhas lá está não há mesmo maneira de se saber que legislação está em vigor! Deve ser por isso que a “sra” precisa de um manual.

    Todos os dias saem circulares que revogam despachos que se sobrepõem a leis.
    Todos os dias saem despachos que explicam os decretos-lei que tinham sido legislados ao “lado da letra da lei”.
    Todos os dias saem circulares que (en)quadram a lei que já tinha sido explicada num despacho, mas que como ninguém percebeu, foi explicada num memorando diferente nos diferentes sites das diferentes DRE.
    E para que todos percebam fazem-se umas “conversas em família” com os CE onde se apresentam em power point as leis travestidas de roupagens que não têm nada a ver com a letra das leis em que se baseiam mas que passam a ter força de lei, mais propriamente de cartilha ministerial. Cartilha essa, que será novamente explicada em outros despachos que na última versão já nem com o pp têm a ver. E se aquilo que é despachado e circulado não serve aos altos desígnios, cria-se novo círculo de despachos, memorandos explicativos, etc…

    Como é que alguém se entende no meio desta mixórdia legislativa?! Como é que querem que um leigo nestas matérias (especialista ocupadíssimo noutras “leis”) consiga puxar o fio à meada?

    Parece-me que dois contratos ainda são muito poucos para trabalho tão hercúleo! Isto é mesmo tarefa para um grande dispêndio de verbas!

    ;)

    PS (á moda do PS, claro!):
    Ah!!!! E estas "aquisições de serviços"!!! Ficam todas tão bem! E são todas tão "tão em família"!!! Que maravilha!!!

    Só eu, para comprar uma simples bola de futebol ou de basquetebol tenho que apresentar 3 orçamentos!!!!
    Eles nem de concurso precisam!

    20 mil euros, de um mês de pagamento para este trabalho anedótico, era o suficiente para construir os campos de jogos que a minha escola precisa, mas para os quais os srs do ME dizem que não há verbas!

    Mais uma vez se prova que há dinheiro... não há é para o que é preciso. O dinheiro deste país continua a servir apenas para encher os bolsos da mesma meia dúzia que nos desgosverna e dos seus amigos sanguessugas, nem que para .

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  2. O "nem que para" está a mais. Em sanguessugas faz-se ponto final!!!

    :)

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  3. Já agora vê o que encontrei num comentário aqui:http://paideia-idalinajorge.blogspot.com/2007/12/o-pisa-volta-pisar.html



    Bilderberg Book Suppressed by Portuguese


    http://reason.blogsome.com/2007/07/28/sem-palavras-2/

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  4. O "Não sejam mauzinhos!" retrata mesmo a situação.
    Estão sempre a chegar circulares, ofícios, ninguém consegue trabalhar com continuidade.
    Tanta papelada, tanta àrvore abatida, não é de certeza tarefa de um trio. É um "job" de várias centenas.

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