terça-feira, fevereiro 12, 2008

A Reserva Natural da Corrupção

 O Engenheiro

A Reserva Ecológica Nacional (REN) foi criada com o objectivo principal de salvaguardar áreas importantes em termos ecológicos, de protecção dos recursos hídricos e dos solos, e como forma de redução de um conjunto de riscos nomeadamente de erosão, deslizamento de terras e cheias. Ao longo dos últimos anos esta legislação tem permitido salvaguardar grande parte da paisagem natural do país, principalmente encostas com declive acentuado, a recarga de aquíferos essenciais para o abastecimento público e muitos locais que asseguram objectivos de conservação da natureza. À escala nacional, só não temos um país completamente preenchido com construção dispersa com as inerentes implicações em termos de ordenamento deve-se a este instrumento inovador e precursor pensado pelo Arquitecto Ribeiro Telles.
Câmaras passam a ser as exclusivas responsáveis por delimitar REN: construção onde se quiser e também para os grandes grupos económicos.
A delimitação da REN vai ser efectuada e aprovada a nível municipal pelas próprias câmaras podendo-se excluir as áreas de construção já licenciada ou autorizada (mesmo que tal tenha ido contra a lei por estar em zona actualmente de REN), podendo ficar de fora da REN as áreas “destinadas à satisfação das carências existentes em termos de habitação, actividades económicas, equipamentos e infra-estruturas” (artigo 39º). Tal significa obviamente uma aplicação completamente discricionária e ampla em cada um dos municípios, não permitindo assim proteger os valores e promover a redução dos riscos associados ao regime da REN. Apesar deste último princípio já estar de certa forma contemplado na actual legislação, o facto de a aprovação ser efectuada pelas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) tem limitado as intenções expansionistas em termos de construção das autarquias, o que agora é ultrapassado.
O regime excepcional (artigo 51º) revela numa das alíneas um dos verdadeiros objectivos do diploma – a realização de acções de relevante interesse público (onde claramente se incluem os PIN – Projectos Potencial Interesse Nacional) pode ser feita em REN, apesar de se afirmar que tal só é possível efectuar se não houver alternativa fora da REN (a justificação de que não há alternativa quando efectivamente existe tem sido utilizada frequentemente em áreas de Rede Natura, pelo que certamente tal será também o caso da REN).
In “Naturlink

Resumindo, a classificação daquilo que fica e daquilo que sai da Reserva Ecológica Nacional passa para a responsabilidade das câmaras Municipais. Sabendo nós como as coisas se passam por aí, a pressão imobiliária e o compadrio que se passa em muitos Municípios deste país, já consigo imaginar o aumento de construção que vai aparecer por aí. Dizem que as CCDR podem não aprovar que certas áreas sejam retiradas na REN, mas a nova lei também diz que, se não o fizerem num curto prazo que lhes é dado, a autorização é automática. Quem não se lembra das autorizações especiais que foram dadas em nome do “Projectos Interesse Nacional e que depois se vieram a descobrir entrarem na área da corrupção e dos interesses (embora nenhum tenha sido condenado por isso). Essas assinaturas ainda os podiam incriminar, agora nem vai haver um responsável, basta não dizer não para se estar a dizer sim.
Cada vez mais vemos leis serem criadas e que, em vez de combaterem a corrupção lhes facilita a vida. Porque são feitas, é algo que devíamos perguntar a quem as aprova. Este país está a saque, cada vez menos podemos confiar no próprio estado e na capacidade da justiça.
Sempre gostei deste país, do seu sol, da sua comida, do seu vinho, das suas gentes e da sua beleza. Sempre disse que era aqui que queria viver e nunca pensei na possibilidade de daqui sair. Hoje, não sei se quero que os meus filhos cresçam e vivam numa tal podridão e onde o maior corrupto é o próprio estado. Um país onde muitos vivem numa Reserva Natural de Corrupção. Puta que os pariu.

Contribuição para o Echelon: NATOA, sneakers, UXO

7 comentários:

  1. Esta estava mesmo à espera de passar despercebida, penso eu "de que". Mas não escapou ao Kaos... Ainda bem, porque é mesmo revoltante. Já tratei de passar a palavra. ;)

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  2. Admira-me como é que a rapaziada como vocês, que estaciona em cima dos passeios, que puxa o softwarezito pirata da Mula (Photoshop para fazer este blog incluído), que pela-se por uma boa fuga aos impostos, que se rebola no chão quando o empregado do restaurante se esqueceu de meter o vinho, que sonha com o príncipe dos vigaristas para futuro dirigente do clube desportivo que ama, que compra o carrito de importação lá fora e se marimba na poluição ou na segurança só porque tem um Mercedão Cagalhão, que conduz já sob o efeito do alcóol com as pastilhas do "amigo doutor" no porta-luvas, que conhece alguém que conhece outrém que trabalha não sei onde e lhe tira as multas todas, admira-me que vocês se espantem com a corrupção e com a vigarice dos servidores do estado! Pensam que eles vêm donde? Da constelação de Sirius? São iguais a nós (sim, também me incluo). É assim tão difícil de perceber?

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  3. Quanto mais leis, maior a injustiça. A quantidade de leis serve, precisamente, para ocultar a realidade.
    Quando se fala de corrupção, fala-se de Estado em sentido restrito e Portugal é um país atrasado, devendo-o, em grande medida, à corrupção.
    Claro que a corrupção é fruto de uma determinada mentalidade que só poderia ser modificada através de uma Educação adequada, mas isso não interessa a quem quer ver se se abarbata com muitíssimo mais.
    Há pessoas cujos valores morais e éticos, interiorizados desde o berço, as induzem a cumprir os seus deveres, mas com um Estado tão ladrão como o que temos, devem pensar duas vezes se não estão a ser tolinhas. Andar a prescindir de um pouco de conforto para dar a oportunidade a uns sacanas de viverem à fartazana e à sua custa (e de forma ilícita) é, no mínimo, burrice. Se tivéssemos um Estado (aparelho) justo, honesto e competente, jamais teríamos uma carga fiscal tão asfixiante e não sofreríamos da mesma tentação para o defraudarmos.

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  4. Caro KAOS: bom, mesmo muito bom! E o boneco também,estupendo! E permita-me:
    http://kldt1208.wordpress.com/2008/02/06/o-amigo-do-ambiente/

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  5. Aqui temos o homem noutra das actividades que desempenha com grande competência: a construção civil. Com o seu currículo não teve qualquer problema em mudar de ramo e, note-se, em questão de poder, foi sempre a subir.

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  6. Agradeço a todos as simpáticas palavras e é bom que se divulgue este atentado que é talvez o maior golpe imobiliário dos últimos tempos. isto vai render mais que um aeroporto na Ota outro em Alcochete e ainda podiam fazer mais um no Montijo, ligar todas as aldeias por TGV, fazer ponte ao lado umas das outras no Rio Tejo e construir mais umas expos e muitos estádios.
    Mas queria deixar uma palavra ao Xico esperto. Tens razão, posso não ser perfeito ou impoluto, mas acredita que a fotografias que fazes de mim não é boa. Sou até um parvo porque não aceito certas práticas e sou teimoso como um raio. Há valores que não abdico. Estaciono um carro comprado em segunda mão nos passeios, é verdade , não retiro software da Internet, pago sempre as minhas contas e não fujo a impostos. Nunca vivi de favores e vou trabalhar todos os dias. Se reclamo contra a corrupção é porque compreendi que a viad não tem de ser uma guerra de uns contra os outros, mas pode ser uma caminhada de companheiros. Aprendi no antes e nos tempos seguintes ao 25 de Abril o que é a solidariedade, o dar mais valor à pessoa que á gravata ou ao carro que tem. Sou um ingénuo,um sonhador, talvez, mas durmo bem à noite e tenho algo em que acreditar.

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  7. Ora espera, aqui podíamos fazer um aeroporto, não, que já está a ser feito na Pta, e aqui podíamos fazer uma ponte ou duas, mas não, porque era preciso trazer cá o ro, ó raio, já sei, assim com'assim, passamos por cá a autoestrada e quadruplicamos-lhe o preço, boa, que quando os portugas vejam já eu fugi com a massa, oh, e eles, do pacheco ao telmo ao portas e ao santana, fazem o mesmo, na obra ou na treta.

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