quinta-feira, março 13, 2008

Hipnotismo sindical

Mario Nogueira

Num post que escrevi ontem, contra a aceitação das falsas soluções que procuram encontrar para a luta dos professores, critiquei a actividade sindical neste país. Quero começar por deixar claro que sou 100% a favor da existência de sindicatos fortes, capazes de defender os direitos de quem trabalha e combater as inevitáveis tentativas do dinheiro para os destruir. O que me custa é ver uma central sindical, reivindicativa, lutadora, a CGTP (a quem se deve a pouca contestação que ainda vai existindo neste pais, honra lhes seja feita), mas a deixar, muitas vezes, que os interesses e as estratégias políticas condicionem essas lutas e esses combates. Muitas manifestações a que tenho assistido parecem mais uma forma de tirar a pressão da luta, que para a intensificar e criar maior determinação em todos. Muitas vezes parece que desejam mais sentarem-se na mesa com o poder a discutir que a mostrar uma verdadeira determinação de lutar até ao fim. Como disse, o caso dos professores pode ser um bom (ou péssimo, consoante a perspectiva) exemplo disto, se no fim aceitarem uma negociação fajuta, em que tudo fica como está com uma pequena cedência, aqui ou ali, seja a nível temporal ou formal. Não posso deixar de lamentar que, quando da manifestação que reuniu 200 mil pessoas, a poucos metros do Pavilhão Atlântico onde estavam reunidos os lideres europeus a cozinhar a versão final do Tratado de Lisboa, não tenham tido a vontade e a coragem de avançar até lá, numa demonstração de força e num aviso da determinação daquele mar de gente em exigir a mudança de politicas. Zé Mario Branco no seu “FMI” dizia, “como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré-cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou!” Foi como me senti e como muitas vezes estas lutas me fazem sentir.
Da UGT não há nada a dizer. Têm sido o maior aliado do governo na implementação das políticas liberais e capitalistas que hoje nos governam. Acabam sempre por assinar acordos na chamada “sede de concertação social”, legitimando as políticas do governo. Mesmo quando parecem estar do nosso lado da barricada, acabam sempre por assinar o armistício e ceder aos “Mapas cor-de-rosa” deste governo.
Não quero acabar sem dizer que a existência de sindicatos e o estarmos sindicalizados é a melhor forma de podermos defender os nossos interesses e direitos, mas há que procurar corrigir muitos dos males de que padecem, retirando a sua acção da agenda e dos interesses partidários. Os sindicatos só podem ter força se representarem trabalhadores, e os trabalhadores têm a obrigação de forçar os sindicatos a agir da forma que consideram ser a melhor na defesa dos seus interesses.

Contributo para o Echelon: spies, IWO, eavesdropping

12 comentários:

  1. Ora nem mais!!!
    "Os sindicatos só podem ter força se representarem trabalhadores, e os trabalhadores têm a obrigação de forçar os sindicatos a agir da forma que consideram ser a melhor na defesa dos seus interesses."
    A maioria das pessoas dizem mal dos sindicatos mas ... não fazem nada! Ora assim é que não!!!
    Excelente, como sempre, caríssimo amigo!
    Bjos,
    M.

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  2. Permita-me discordar num especto caro amigo kaos, mas negociações fajutas, são tipicas da UGT e não da CGTP, e como prova disso são as declarações de Mário Nogueira após as da Mona a dar o dito pelo não dito:"a luta é pa intensificar!".
    Os amarelos da UGT é que têm o mau costume de quando PS é governo, simplesmente sumirem. Já quando PSD é governo, aparecem +ara assinarem aumentos abaixo do valor da inflacção entre outras maroscas, para dizerem "nós é que desbloqueamos",mas o Zé é que se lixa!

    Abraço asinino da serra de estrela!

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  3. moriae:
    Obrigado
    bjs

    Asno:
    Tudo quanto não seja a demissão da ministra e o fim deste sistema de avaliação, do novo sistema de gestão das escolas e do estatuto do aluno é fajuto, mas vamos ver se não vai ser bem mais modesta a vitória do sindicato. No entanto gostava de estar enganado
    abraço

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  4. Pode ser que sim, mas já estamos habituados aos ziguezagues dos muchachos do PC. Se não conseguirem controlar politicamente a contestação dos professores, vão dar cabo dela. Disso não tenham dúvidas. As raízes estalinistas dos seus dirigentes e a sua posição face às lutas sindicais no nosso país assim o demonstram. Não sejam idealistas. A política de qualquer partido ou da suas nomenklaturas não se compadecem com poetas, mesmo que bem intencionados.

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  5. Os sindicatos preocupam-me muito mas cuidado quando o discurso resvala para atirar a culpa de origem aos sindicatos. Constato, muitas vezes, que as principais críticas à acção dos sindicatos são de pessoas que não têm a pequeníssima iniciativa de serem sindicalizados. Gerir uma vitória destas, não é fácil, confio na energia do Mário Nogueira, tremo que possa errar mas nem passa pela cabeça que não esteja do mesmo lado da avenida!
    Um abraço da ave Nida
    (Uma vez por verão vou à praia velha de S.Pedro Muel pensar com esse rio - sempre com o FMI a zumbir-me com as ondas no ouvido)

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  6. Sim, também não acredito que se demita essa mona...
    Estes gajos parece que têm o rei na barriga!

    Abraço asininio

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  7. O anonimoe seu chorrilho de ditos nomenklaturios burros di costume, rais o parta, sem nome, estúpido, cassetético e vazio.

    Uma que antes acredita que trabalhadores deixados sem os sindicatos ou são do partido do governo, tipo amigo de banqueiros, qual cococonstancio, ou tão bem entregues aos bichos.

    E ñem sou despeitada comò anonym.

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  8. Isto precisa é de uma limpeza, mas desta vez não pode ser para debaixo do tapete.
    Que "eles" já ai andam outra vez, ai isso andam...!
    Aliás, nunca se foram, só que agora ganharam penacho!

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  9. Tenho uma dúvida que, sendo circunstancial, me parece metódica. Explico. Em tempos, relativamente recentes, A. Barreto, esse mesmo, o velho sociólogo da velha lei que se lhe colou ao apelido, escreveu no "Público" [6 de Janeiro] uma frase enigmática: "Não sei se Sócrates é fascista. Não me parece, mas, sinceramente, não sei". O Corolário de tal desconfiança, diz o António, prende-se com "decisões que limitam injustificadamente a liberdade dos indivíduos" e ainda a constatação do facto de que "A vigilância sobre os cidadãos é colossal e reforça-se".
    Filomena Mónica, do mesmo clube e com mais variações, numa entrevista ao DE, [12 de Março], para lá da dúvida barretiana, afirma dois em um: Alternativa a este Governo só há uma: “Emigrar”; Sócrates limitar-se-á a remendos, a fim de tentar apaziguar alguns professores, mas nada disto resolverá o problema de base, até porque ele próprio não faz a mínima ideia do que seja aprender ou ensinar: basta olhar a universidade que frequentou.
    Vale a pena, uma vez por outra escutar à porta desta gente e perceber o desencanto que lhe percorre a casa. Se para eles o diagnóstico é uma doença sem remédio, para nós, a rua insubmissa e livre tem que ser, cada vez mais, o antídoto para esta espécie de normalidade do mal.
    Conforme estão as coisas, Mário Nogueira não pode calar-se com um prato de lentilhas, mas basta olhar a sofreguidão de alguns comentadores pelo sangue dos professores para evitar ser o elefante na loja de porcelanas. Este conflito precisa de pinças; está muita coisa em jogo: ECD; Estatuto do Aluno; Ensino Artístico; Ensino Especial; Avaliação com o supremo conflito de interesses entre avaliadores e avaliados, que concorrem para os mesmos lugares, com quotas; a gestão democrática, a defesa da Escola Pública de qualidade, enfim um enorme conjunto de dossiês que é preciso gerir com parcimónia. Isso não significa que não estejamos atentos e prontos para denunciar o mínimo deslize. Também não gostei da metáfora da luz e do túnel que-afinal-não-tinha-luz! São muitas dias e horas de cansaço, enquanto os socretinos contam com exércitos de assessores, pagos pelo erário público, para à mínima nos descartarem. Estaremos vigilantes.

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  10. Kaos, subscrevo o que escreveu, tanto nesta como na anterior publicação sobre o assunto. Os sindicatos são necessários mas têm de mostrar que são dignos daqueles que representam. Já critiquei várias vezes a sua tendência para o excesso de ‘politicamente correcto’. Estavam todos unidos contra o Estatuto da Carreira Docente e (praticamente) nada conseguiram de palpável nas negociações, limitaram-se a fazer ‘show off’. Ameaçaram com o pedido de averiguação da constitucionalidade do dito, que foi publicado em DR em Janeiro de 2007 e só em Novembro desse ano, já quando as ideias base do Decreto Regulamentar (que produziu este modelo de avaliação) estavam quase concretizadas é que conseguiram que cerca de 30 deputados do PSD pedissem a verificação sucessiva da constitucionalidade do ECD.
    Agora começaram a agir porque se sentiram a perder protagonismo face aos novos movimentos e às manifestações ‘espontâneas’. Organizaram a marcha e colaram-se de imediato ao sucesso dela, mas foi claro que foram apanhados de surpresa pelos números, basta lembrar os discursos mais ou menos atabalhoados na Praça do Comércio. Agora que estão de novo na ribalta vêm por água na fervura. Este Estatuto não presta, o modelo de avaliação é consequência dele. Também o Estatuto do Aluno é pior que o anterior e os sindicatos mal falam dele. A Prova de Ingresso, o diploma sobre o ensino artístico e a nova proposta de autonomia e gestão também são documentos para a ministra pôr no lixo. Menos que isto é uma derrota humilhante para os professores, para a escola pública e para a democracia.
    Eu acho que a senhora Maria de Lurdes não percebeu bem o que significam 100 mil professores no universo dos professores portugueses, ou então, não tem vergonha na cara. Os sindicatos ficaram tão babados com o número (convencidos que foi uma conquista sua) que bloquearam e nem conseguem reagir.

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  11. "O que me custa é ver uma central sindical, reivindicativa, lutadora, a CGTP (...), mas a deixar, muitas vezes, que os interesses e as estratégias políticas condicionem essas lutas e esses combates."
    Não falta por aí um verbo?

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  12. Claro! Penso o mesmo sobre o desvirtuamento da actividade sindical e os compromissos negociais que desonram os aderentes. Os sindicatos, na actualidade parecem procurar a negociação para se legitimarem aos olhos dos aderentes, ao passo que estes sentem essa cedência como uma vergonha.

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