quarta-feira, abril 25, 2007

Era um puto de 16 anos e não houve aulas

Há um ano escrevi este post contando como foi vivido dia 25 de Abril por mim. Como a esperança existe sempre para quem ama a liberdade, quem sabe não terá o meu filho a sorte de viver, também ele, o seu dia em que tudo parece ser possível, o amanhã é uma página em branco onde todos os futuros podem ser escritos e eu a felicidade de estar a seu lado.

Acordei naquela manhã como em qualquer outra manhã, com a correria do lavar, vestir, comer, o beijinho de – Até logo e porta-te bem e o correr de novo para apanhar o comboio das quarenta e dois. Vão entrando mais amigos e mais colegas, os de Oeiras da Parede até todos juntos entrarmos pela escola dentro. Logo surgiu o Director e alguns professores a dizer-nos que não havia escola, – Vão todos para casa.
Logo ali a ideia, que fazer com este dia livre. Discutia-se a hipótese Praia da Zambujinha quando, chega a notícia de que há uma revolução em Lisboa com soldados e tanques. Nem se discutiu mais e lá fomos todos a correr, uma vez mais, para a estação. A confusão, o que seria, haveria tiros e as informações de quem também viajava e que tinha ouvido dizer.
Cais do Sodré e lá fomos nós, de novo a correr, Tanques, soldados e o, – Para trás, – Vão para casa. Ali passámos todo o dia correndo Lisboa de baixo para cima e de cima para baixo. Foi durante esse dia que Portugal, um país a preto e cinzento, ganhou cor. O vermelho dos cravos, o brilho dos risos, tudo era alegria e cor. Foi como se o mundo se tivesse aberto e jorrado toda uma nova gente que até ai eu nunca tinha conhecido. Gente solidária, amiga, alegre, colorida. Cor, havia cor por todo o lado. Até os velhos fatos cinzentões pareciam ganhar cor com aquele simple cravo na lapela.
Foram tais as sensações e emoções que vivemos nessas intermináveis horas, hoje já tão curtas, que fizeram daquele dia um dos mais inesquecíveis da minha vida. Nem mesmo o raspanete monstruoso e uma mãe, preocupadíssima, quando finalmente cheguei a casa, já noite, alteraram o sentir desse dia. 25 de Abril, Sempre.

Aqui sentado , olho para a jarra cheia de cravos vermelhos que a minha companheira ali colocou hoje e não posso deixar de pensar – Fui um puto com muita sorte e ainda sou.

23 comentários:

  1. E ainda hoje o país continua dividido:
    - O que era preciso cá era um novo Salazar!
    Julgo que temos aí engenheiro para isso.
    - O que era preciso era um outro 25 de Abril!
    Talvez um dia...
    É um desejo que temos de construir para os nossos filhos.

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  2. É verdade, querido Kaos, apesar dos pesares, somos todos uns putos cuma sorte do caraças por vivermos sem ditadura. Agora falta fazer a outra revolução , mais difícl, que não vai lá a ferro e fogo, só lá vai com persistência e palavras cheias de sentido, de sentimento, de revolta, de raiva até. A revolução dos espíritos. Grande batalha esta, amigo, grande desafio este, mostrar aos que então lutaram por uma sociedade melhor que somos capazes de levar a luta adiante - e vencê-la. Isso é que era bonito!
    Um forte abraço de liberdade!

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  3. Pois eu tive de ficar em casa....
    No 1º de Maio,encolhida, saí à rua.
    E entrei no sonho.
    Depois, vieram os recém-chegados à democracia social e foi fatal.
    Mas o sonho ficou calado cá dentro.
    Será que temos de novo de vir para a rua gritar?

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  4. Parece que sim, anónimo.

    Kaos: Como já disse, eu estava na Alemanha, mas acredito que deve ter sido um dia de encher o coração. Valem-me também as histórias do meu sogro, no activo na altura.

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  5. Aqui fica um poema escrito pelo Zeca nas masmorras de Caxias. Um poema que revela a faceta surrealista que havia no Zeca.


    Era um redondo vocábulo

    Era um redondo vocábulo
    Uma soma agreste
    Revelavam-se ondas
    Em maninhos dedos
    Polpas seus cabelos
    Resíduos de lar,
    Pelos degraus de Laura
    A tinta caía
    No móvel vazio,
    Congregando farpas
    Chamando o telefone
    Matando baratas
    A fúria crescia
    Clamando vingança,
    Nos degraus de Laura
    No quarto das danças
    Na rua os meninos
    Brincando e Laura
    Na sala de espera
    Inda o ar educa

    Zeca Afonso


    25 DE ABRIL SEMPRE!
    FASCISMO NUNCA MAIS!

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  6. Acabei há pouco de ver no Canal 1 da RTP a gala de homenagem ao Zeca.
    Para além da altíssima qualidade do espectáculo gravado na Galiza, emocionou-me a já conhecida admiração que o povo e os cantores galegos nutrem pelo Zeca e pela Revolução dos Cravos.
    Nota máxima para esta co-produção luso-galaica.

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  7. henry pote: Não me leves a mal, mas copiei o teu comentário para o meu blog. Não conhecia esse poema de Zeca Afonso.

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  8. brit com:
    Como posso levar a mal a divulgação da obra do Zeca?
    Pelo contrário. Fico feliz por recordá-lo não só pela obra poética que nos legou como pelo seu combate empenhado pelos valores da liberdade e da fraternidade.
    Zeca Afonso, sempre!

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  9. A minha liberdade não é a liberdade deles. E não é porque:
    - as palavras são palavras, e ninguém é perseguido por proferir palavras;
    - a responsabilidade é apenas isso e só isso: responsabilidade;
    - nalgumas coisas a liberdade sobrepõe-se à igualdade, noutras a igualdade à liberdade;
    - a verdade não é ocultada por conveniência, e os factos são sempre factos.

    O melhor produto político do fascismo, são os políticos que têm o poder hoje em Portugal.
    E esta é, de longe, a pior herança que Salazar nos legou.
    Um abraço.

    Cocas demite-te e leva os soquinhas contigo.

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  10. Porque hoje é dia 25 de Abril, queria lembrar que há um povo pacífico que vive num país chamado Tibete, e onde e negro da tirania chinesa encobre o branco das neves desde 1950. Este povo precisa também de um 25 de Abril.
    Obrigado pela hospitalidade que me permite colocar este post neste blog fantástico!
    Um abraço.

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  11. João Rato:
    Eu acredito que é possivel, e quanto mais estes nos apertarem mais vontade nasce de mudar.
    Um abraço

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  12. Esteva:
    E somos, porque embora separados somos muitos a desejar um mundo novo, mas fraterno e solidário. Se cada um disser a sua verdade, se unirmos forças e vontades o sinho pode remascer em muitos mais. Temos de acreditar e fazer com que outros vivam a mesma sorte que nós tivemos.
    Bim 25 de Abril
    bjs

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  13. anónimo:
    Dizes bem, ficou colado e bem vivo cá dentro e, sim, temos de gritar cada vez mais porque quem viveu aquela liberdade não pode sobreviver sem ela.
    abraço

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  14. Brit Com:
    Também p meu sogro foi um homem da revolução e também a ele lhe custa ver como toda aquela liberdade foi sendo destruida passo a passo. Mas quem a viveu necessita dela como do ar para respirar. Havemos de a reviver de novo.
    bjs

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  15. Henry:
    Também vi o programa e senti-me bem a ver que ainda há quem acredite no espirito que se viveu naquela altura. Só assim ele um dia poderá renascer para todos.
    Obrigado pela memória do Zeca
    abraço

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  16. Brit com:
    O Zeca era um homem unico, e as suas musicas sãoó a ponta de tudo aquilo que ele foi e representa para muitos de nós
    bjs

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  17. Henry:
    Enquanto houver alguém que cante o Zeca a esperança de mudança não morre.
    abraço

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  18. Contribuinte:
    Esse legado do fascismo só existe porque nós não soubemos defender a do 25 de Abril. Houve quem receasse a revolução e travaram-na. Talvez o maior legado do 25 de Abril seja o agora todos sabermos que quando se começa uma revilução tem de se ir até ao fim.
    abraço

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  19. Contribuinte:
    Claro que podes hoje e sempre lembrar a tirania onde quer que ela exista. A liberdade é sagrada para todos.
    abraço

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  20. Contribuinte
    Mas esta gente que tem estado empoleirada nos cadeirões do poder nos últimos anos, não é um produto do fascismo. Diremos que é antes um sub-produto salazarento, inculto e incompetente.
    São seguidores atentos e veneradores dos tiranos que dominaram o país durante 48 anos. Alguns serão mesmo seus filhos e netos.
    E chegam ao cúmulo de confundirem maioria com poder absoluto. São - numa palavra - um susto!

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  21. kaos e henry pote,
    Que a Liberdade nos acolha no seu regaço, e que nunca - mas mesmo nunca - deixemos de ser dignos de aí nos acolhermos.
    Abraço

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  22. Contribuinte:
    Obrigado 25 Abril tem de ser todos os dias
    abraço

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  23. passo a passo dia a dia teremos que defender sempre essa liberdade que foi conquistada. Mesmo que com todos os problemas que conhecemos é bom que possamos dizer.
    jinhos

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