Imagem pescada daqui
Finalmente alguma coisa acontece nas minhas férias. Eu explico: férias no Alentejo ainda podem dar o privilégio de se passarem dias sem nada acontecer. Eis o motivo por que não me importo nem um pouco de vir para cá resguardar-me, quando estou em férias. O mais que me tinha acontecido até agora foi ver o Belmiro passar por mim na Comporta, uma herdade que cada vez mais excede os seus limites e já vai construindo estradas no Carvalhal, para estragar o Verão dos pobres, lançando para ali os seus tentáculos. Pouco mais tempo e aquilo ali tudo vai virar estância de férias para gente endinheirada. Ao Belmiro Patinhas já lhe cheirou a nota ali para aquelas bandas e foi lá poisar.
Mas afinal que me aconteceu hoje que justifique estar para aqui a divagar? Entre um passeio maravilhoso de carro pelo Alentejo e de uma tarde tão maravilhosa na beira de uma barragem onde se estava melhor do que na praia nos últimos dias ventosos deste verão primaveril, a incursão ao Fluviário de Mora veio causar-me o maior espanto. Anunciava-se um desconto de 1 euro por cada elemento caso se tratasse de uma família, mas afinal descobri que uma família não é uma família, porque nós éramos uma família e não tivemos direito ao desconto. Publicidade enganosa, concluí. Não, estava tudo bem explicado, até na Internet – era mesmo preconceito declarado. Eu explico: na sua extraordinária modernidade, este projecto apoiado por fundos da UE, o Fluviário, só se reconhece como “família” um pai, uma mãe e as suas crias. Porque se for duas cunhadas e os quatro primos, já não é considerado família. Houve mesmo quem levantasse a questão de que aquela poderia ser uma família moderna, dessas com duas mães e os respectivos filhos, e daí? e que aquela regra era muito preconceituosa. Então e se fosse uma mãe só com os filhos e o marido estivesse ausente? Testámos as várias possibilidades… Também não dava!
Pagámos sem desconto mas no fim deixámos escrita a sugestão de que o conceito de família que eles ali têm deve ser no mínimo repensado.
Gostei de ir ao Fluviário mas não fiquei boquiaberta como os peixes que vi por lá. Piranhas, já tinha visto pelas praias, lontras também não eram novidade e mesmo a Anaconda estava ali nitidamente em minoria. Lamentei não ter visto nenhuma perereca, mas certamente me cruzarei ainda com outras. Na verdade gostei mais de mergulhar no rio cá de fora que até me chegou a recordar o meu ideal de praia: uma praia com relva até à beira do mar e só aí com areia branca e águas cristalinas. Faltava ali o mar, as ondas, o sal, a renovação das águas e a limpidez. Águas demasiado paradas mas dando para nadar tranquilamente; desvantagem: a água barrenta não deixa ver o fundo, o que ali até é preferível. Mas a ideia de estar no meio do verde da vegetação agradou-me como me agrada comer só salada de vez em quando. Senti-me ali como um peixe fora do Fluviário, nadando livremente apesar do cardume de gente. Foi um dia de férias.
Depois veio o momento do regresso, o cansaço meditativo e a lembrança que não se apaga nunca. Não há um só dia em que não me lembre do meu pai. Inacreditável: faz hoje três meses que deixei de o ver. Tanta saudade. A isto sim é que eu chamo a falta de um pai!