sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Uma fina linha num espaço aberto

O Opus Dei, grupo conservador inserido na Igreja Católica, exige que a produtora Sony faça alterações no filme “O Código Da Vinci”, que tem a estreia mundial marcada para 17 de Maio, na abertura do Festival de Cinema de Cannes.
O filme, baseado no bestseller homónimo de Dan Brown e com o norte-americano Tom Hanks e a francesa Audrey Tatou como protagonistas, parte da premissa de que Jesus e Maria Madalena na realidade se casaram e tiveram filhos e que a Igreja Católica tem passado os últimos 2000 anos a tentar encobrir esses factos.O Opus Dei, que conta com 85 mil membros a nível mundial, e que no livro é apresentado como uma organização tendencialmente secreta e ansiosa por poder, afirmou num comunicado divulgado na terça-feira em Roma que certas referências (não especificadas) deveriam ser retiradas do filme, para que os sentimentos dos católicos não sejam feridos.
As pressões são dirigidas directamente para a Sony, pois o filme está ainda em fase de pós-produção e poderia ainda ser alterado. O comunicado avança que “a novela oferece uma visão deturpada da Igreja Católica” e que um gesto de boa vontade por parte dos responsáveis seria apreciado pelos católicos, “em especial nestes momentos em que todos percebem as dolorosas consequências da intolerância”, numa referência à polémica levantada pelos cartones sobre Maomé publicados na imprensa ocidental.
No entanto, não é adiantada a hipótese de ser pedido um boicote dos católicos a “O Código Da Vinci”, embora, segundo um elemento do gabinete de imprensa do Opus Dei em Roma, possam ser equacionadas outras medidas, se, após a estreia, se verificar que não foram efectuadas as modificações que a organização considera necessárias.
In “Publico”

Voltamos sempre ao mesmo. Uns exigem, outros recusam e chegam as ameaças. Mais bárbaras ou mais civilizadas, quer o acto quer a reacção entrechocam-se sempre naquela fina linha onde coexistem a liberdade de expressão, o direito à indignação e mesmo o abuso e o medo. Como eu já referi em outros momentos, não há aqui respostas simples, mas muito menos pode haver dois pesos e duas medidas consoante o lado da barricada onde nos encontramos. Se os nossos direitos terminam onde começam os do outro também é verdade que os do outro têm de terminar onde começam os nossos, a aqui não nos encontramos sobre a tal fina linha, mas num enorme espaço aberto que ambos desejam conquistar. É aqui que a atenção constante é uma necessidade premente, já que não nos podemos nem deixar coagir por uns nem ser utilizados por interesses obscuros de outros. As religiões foram, desde o momento em que os homens criaram os seus Deuses, para alguns, uma forma de possuir o poder, em muitos caos quase absoluto e assim controlarem o saber, a cultura e a vivência dos seus seguidores. Foi e é sempre pelo medo e pelo castigo que impuseram as suas leis e as suas verdades. Foi sempre em nome desse Deus que impuserem o seu poder. Quando Nietzsche declarou a morte de Deus, neste caso do ocidental, criou-se esse tal espaço aberto, vazio e que ainda hoje é um antro de liberdade e de cobiça. É aqui, nesse espaço, que essa fina linha está a ser marcada todos os dias e é da nossa capacidade de controlar o braço que a desenha que reside a quantidade de liberdade que podemos usar em cada momento.

5 comentários:

  1. Não ponham a mãozinha nesses facínoras da Opus Dei, e vamos parar a um lindo sítio, brevemente... :-\

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  2. Ainda se lembram daqueles arruaceiros que partiram uma sala de cinema em Lisboa? Devem neste momento estar a afiar umas facas...

    De qq modo, muita da teoria de Dan Brown sobre Jesus, Maria e a sua fuga para França assim como a descendência dos monarcas francesas tem sido muito questionada e baseia-se em pilares muito frágeis... Sobretudo tudo o que rodeia o chamado "Priorado de Sião", na verdade construção de um único tipo, ligado à extrema direita francesa e a Plantard de Saint Clair.

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  3. A miuda prece-se mais com o Judas que com o pai.

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  4. Estás condenado aos quintos do inferno

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  5. É com a intolerancia que limitam a nossa liberdade. Já aconteceu no passado e parece-me que está a acontecer de novo.

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