sexta-feira, setembro 21, 2007

Durma bem Sr. Ministro

Ontem à noite choveu, não foi muito, mas os pingos eram poucos mas grossos. Sei isso porque me apanhou quando o meu cão me levou a passear depois do jantar. Bem no centro da terra, uma mulher remexia num caixote de lixo, bem perto de uma forma de gente coberta por um cobertor que dormia num vão da Caixa Geral de Depósitos. Esse estava abrigado daquela pouca chuva que caía, mas não o que estava no jardim, sentado a comer um pão, entre os sacos de plástico onde transporta toda a sua vida e um pacote de vinho, a esse aquela água não o parecia incomodar. Pediu-me um cigarro, dei-lhe dois.
Não sei se amanhã vai chover, mas com a chegada do Outono já depois de amanhã, as probabilidades vão aumentando. Chova ou não, aquela mulher e muitos outros, lá andarão a fazer a ronda dos lixos, para ver quem tem mais sorte e ficará com menos fome nesse dia. Só que para esses a concorrência cresce de dia para dia a olhos vistos. O que dormia abrigado, enquanto tiver a sorte de não o irem correr de lá, por incomodar a sensibilidade de alguém, continuará a não apanhar chuva. Quanto ao que outro, não sei voltará a ter pão e vinho, mas se me vir, vai certamente pedir-me mais um cigarro.
Sr. Ministro, vem aí a época do frio e da chuva. Será que, mesmo sendo nós o país mais pobre da EU e da crise que nos colaram à pele, não haverá um dinheirito, sei lá, fazendo menos uma cimeira, ou uma inauguração, para ajudar esta gente? Somos um estado, um país, não deveríamos ter um patamar mínimo de dignidade para com os nossos cidadãos? A mim parecer-me que sim.

Contributo para o Echelon: Electronic Surveillance, MI-17

6 comentários:

  1. Tem toda a razão! De facto, já vai sendo altura de os políticos começarem a dar importância às coisas importantes!Mas...os políticos só mudam se nós, cidadãos, os obrigarmos a isso. Essa é que é essa...

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  2. Infelizmente, caro Kaos, se estes acabam, se não há doentes, se não há reformados a 200 €uros por mês, etç, etç ... para quê governantes?
    Como diria o nosso Primeiro Ministro:
    Ao contrário!!! Ao contrário meus amigos!!! Quantos mais melhor para que eu possa justificar mais empregos para os meus amigos!
    Perguntará o Kaos e com razão:
    Mas então não começou por dizer que os governantes servem para resolver estes problemas?
    Desta vez a resposta virá à moda de Marcelo Rebelo de Sousa:
    É mas não é porque se resolverem ficam eles sem trabalho e portanto devem assumir que vão resolver sem resolver para que ... quê? Acabou o tempo? Posso dar uma última nota? A Vanessa Fernandes é uma grande campeã!

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  3. kaos
    Este post toca-nos bem no fundo. Cada vez assistimos mais à degradação de seres humanos que já não sabem ou podem fazer face a esta sociedade do «salve-se quem puder». Referem que muitos dos sem abrigo sofrem de problemas do foro psiquiátrico, que os diversos «dependentes» acabam por viver à deriva, podem apresentar-nos inúmeros argumentos, mas o facto é que nada é feito para trazer dignidade àqueles que já não têm como se defender.
    Poderemos algum dia aspirar a uma sociedade e governação mais humanizadas? Parece-me uma miragem.
    Abraço

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  4. Na praceta das traseiras da minha casa, havia um carro abandonado há já muito tempo, sem que ninguém se incomodasse com esse facto. Durante o inverno do ano passado, um sem-abrigo transformou-o na sua residência. Guardou lá os seus parcos haveres e de noite utilizava-o para dormir abrigado do frio e da chuva.
    Nunca ninguém se tinha incomodado com o dito carro, mas parece que um carro habitado já é factor de preocupação. O que é certo é que por volta das duas da manhã de uma noite mesmo muito fria, o indíviduo sofreu uma rusga. Verificaram todos os bens do sr, mantiveram-no quase uma hora "na rua" e não sei que lhe disseram porque isso não ouvi, só sei que no dia seguinte o sr foi-se embora. Passados dias também vieram buscar o carro... com certeza para que desmandos destes não voltassem a acontecer.

    PS: o cantinho da CGD tinha "morador" certo. Não sei se ainda continua o mesmo...
    Aqui debaixo do arco que dá passagem da minha rua para a praceta das traseiras também "morava" um, mas já há uns tempos que não o vejo.

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  5. é tão triste a miséria... quantos não se sentiriam abençoados, suas vidas pintadas de rosa, com a última escolha do que diariamente desperdiçamos...

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